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A Parábola dos Talentos

Entenda a conexão entre as parábolas das Dez Virgens e dos Talentos com a nação de Israel e os eventos escatológicos que antecederão a vinda do Messias. Este estudo lança luz sobre verdades escatológicas fundamentais presentes no sermão profético de Jesus, revelando como essas parábolas não tratam da Igreja, mas servem de advertência e instrução profética à geração de judeus que enfrentará a grande tribulação. Ao longo do artigo, você compreenderá o propósito dessas figuras e sua relação com a vigilância, a prontidão e o juízo iminente sobre Israel, conforme anunciado pelos profetas e reafirmado por Cristo.

A Parábola dos Talentos
A Parábola dos Talentos (Foto: Reprodução)



                                                                                                                                                                                                                       A Parábola dos Talentos

“Porque por tuas palavras serás justificado, e por tuas palavras serás condenado.” (Mateus 12:37).

Introdução

A parábola dos talentos é uma das mais conhecidas falas de Jesus e está registrada em dois evangelhos: Mateus e Lucas. Em Mateus 25:14-30, ela aparece inserida no sermão profético de Jesus, no qual Ele anuncia os sinais da sua vinda e o juízo futuro, especialmente no que diz respeito à restauração do Reino para Israel e ao desfecho do mundo como o conhecemos (Mateus 24 e 25). Já em Lucas 19:11-27, a mesma parábola é contada logo após o encontro de Jesus com Zaqueu, e antes de sua entrada triunfal em Jerusalém, em resposta à expectativa do povo de que o Reino de Deus haveria de se manifestar imediatamente.

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Apesar de estarmos diante de uma parábola que aparece em dois momentos distintos da narrativa evangélica, a grande questão continua a mesma: como devemos aplicar corretamente esse ensinamento? A parábola dos talentos foi dirigida à Igreja? Refere-se à salvação eterna? Ou seria um anúncio profético voltado ao povo judeu, no contexto da vinda do Messias para reinar?

Para responder com fidelidade às Escrituras, é essencial começar com o fundamento: qual o objetivo de uma parábola. Somente à luz desse alicerce será possível compreender o sentido da parábola sem incorrer em distorções ou aplicações equivocadas.

Por Que Jesus Ensinava por Parábolas?

“Abrirei a minha boca numa parábola; falarei enigmas da antiguidade.” (Salmo 78:2).

O que é uma parábola?

A palavra “parábola” designa uma pequena narrativa que transmite ensinamentos por meio de imagens e alegorias. Muito comum nas culturas orientais, esse tipo de comunicação associa elementos figurados a significados espirituais, sociais ou morais. Entretanto, as parábolas de Jesus não devem ser confundidas com fábulas ou lições de moral.

Diferente de uma filosofia de vida ou de um manual de ética, as parábolas de Jesus têm uma função teológica e profética, pois revelam — e ao mesmo tempo ocultam — verdades espirituais profundas, conforme o plano de Deus.

Por que Jesus utilizava enigmas, adágios e símiles?

O uso de parábolas por Jesus não foi uma escolha estilística ou cultural. Ele utilizava esse recurso em cumprimento direto às Escrituras, pois os profetas haviam anunciado que o Cristo falaria em parábolas:

“Para que se cumprisse o que fora dito pelo profeta: Abrirei em parábolas a minha boca; publicarei coisas ocultas desde a fundação do mundo.” (Mateus 13:35; cf. Salmo 78:2).

Esse estilo de ensino estava previsto nas promessas messiânicas e permitiria que o Cristo fosse identificado pelo povo de Israel. Aqueles que conheciam as Escrituras teriam elementos para reconhecer o Messias justamente por falar acerca do reino de Deus em enigmas e parábolas, conforme o padrão profético.

O contraste com Moisés e o mistério revelado em Cristo

Desde o tempo de Moisés, Deus distinguia entre a revelação direta (dada a Moisés) e os sonhos e visões (dados aos demais profetas). Deus falava abertamente com Moisés e, aos demais, por enigmas (Números 12:6-8). Assim, ao vir como profeta entre seus irmãos, Jesus falava por parábolas — cumprindo as previsões das Escrituras e mantendo a forma como Deus falava ao povo.

Mas havia também um elemento de juízo no uso das parábolas. A geração de Israel rejeitava o entendimento espiritual, por isso Jesus declarou:

“Por isso lhes falo por parábolas; porque eles, vendo, não veem; e, ouvindo, não ouvem nem compreendem.” (Mateus 13:13);

“Vai e dize a este povo: Ouvis, de fato, e não entendeis; e vedes, mas não percebeis…” (Isaías 6:9).

Jesus usava as parábolas para revelar aos humildes e, ao mesmo tempo, ocultar dos endurecidos o significado do Reino. Não por falta de oportunidade, mas porque o povo preferia sinais e maravilhas a examinar as Escrituras — o verdadeiro testemunho de Deus acerca do Seu Filho.

O público-alvo das parábolas: os filhos de Israel

É importante reconhecer que as parábolas foram dirigidas primeiramente aos judeus. Como está escrito:

“Veio para o que era seu, e os seus não o receberam.” (João 1:11).

Jesus deixou claro que sua missão inicial era às ovelhas perdidas da casa de Israel (Mateus 10:6; 15:24). Essa expressão — “ovelhas perdidas” — aparece nos profetas como símbolo do povo judeu disperso entre as nações (Jeremias 50:6).

Ainda que gentios tenham sido alcançados por Sua compaixão, o ministério de Jesus estava centrado em chamar os judeus a uma mudança de entendimento (arrependimento) em função da Sua presença.

“E ensinava-lhes muitas coisas por parábolas (…). E sem parábolas nunca lhes falava; porém, tudo declarava em particular aos seus discípulos.” (Marcos 4:2 e 34).

As parábolas eram dirigidas ao povo e aos religiosos, frequentemente por meio de figuras e enigmas. Aos discípulos, porém, Jesus explicava em particular o significado dessas parábolas. O uso de adágios, enigmas e parábolas não indicava que Deus não desejava salvar o povo, mas evidenciava a dureza de coração daqueles que se recusavam a crer que as Escrituras apontavam para Cristo — a única base legítima para reconhecê-lo. Como Jesus não afirmava abertamente “Eu sou o Cristo” — visto que o testemunho de si mesmo não era considerado válido —, as parábolas assumiam a função de revelar as verdades de Deus presentes nas Escrituras e, ao mesmo tempo, manifestar quem era o Cristo.

“E com muitas parábolas tais lhes dirigia a palavra, segundo o que podiam compreender. E sem parábolas nunca lhes falava; porém, tudo declarava em particular aos seus discípulos.” (Marcos 4:33-34).

As Escrituras como testemunho do Cristo

Jesus não buscava ser reconhecido por declarações explícitas de sua identidade, mas pelo testemunho das Escrituras. Ele não disse abertamente ao povo: “Eu sou o Cristo”, porque aqueles que realmente cressem em Moisés e nos profetas o reconheceriam por suas palavras e obras.

“Examinais as Escrituras… e são elas que de mim testificam.” (João 5:39);

“Se recebemos o testemunho dos homens, o testemunho de Deus é maior; (…) E o testemunho é este: que Deus nos deu a vida eterna; e esta vida está em seu Filho.” (1 João 5:9-11).

O povo queria milagres; Deus ofereceu palavras vivas, firmadas nas Escrituras. Crer nas Escrituras era a base para reconhecer o Cristo e receber a vida eterna (João 8:28).

Parábolas: recurso de revelação e de juízo

As parábolas, portanto, não eram apenas “boas histórias” com lições morais. Elas eram um sinal profético de que o Reino estava presente e, ao mesmo tempo, um instrumento de separação entre quem cria nas Escrituras e quem buscava apenas sinais exteriores.

Jesus usava as parábolas “segundo o que podiam compreender” (Marcos 4:33), e até mesmo os mestres de Israel, como Nicodemos, tinham dificuldade para compreender as coisas celestiais (João 3:10).

O propósito profético e redentivo das Parábolas

As parábolas cumpriam um duplo propósito: por um lado, ofereciam aos que criam uma forma de reconhecer o Cristo por meio do testemunho das Escrituras; por outro, permitiam o cumprimento das Escrituras naqueles cujo coração estava endurecido, conforme profetizado. Elas expressam a sabedoria de Deus ao se comunicar com Israel por meio de enigmas, adágios e parábolas — uma forma de linguagem já conhecida desde os tempos antigos, própria da tradição sapiencial hebraica.

Essa forma de ensino remonta ao padrão profético e poético da revelação divina no Antigo Testamento. O salmista, por exemplo, declara: “Abrirei a minha boca numa parábola; proporei enigmas dos tempos antigos” (Salmo 78:2), indicando que a linguagem figurada era um meio tradicional de transmitir os feitos de Deus à nação. Da mesma forma, Provérbios 1:6 afirma que o propósito dos provérbios é capacitar o sábio a compreender “os provérbios e suas interpretações, as palavras dos sábios e seus enigmas”. Até mesmo os profetas, como Ezequiel, foram instruídos a empregar linguagem simbólica:

“Propõe uma parábola, e usa de uma comparação para com a casa de Israel” (Ezequiel 17:2).

Desse modo, as parábolas de Jesus estão plenamente integradas à pedagogia profética de Deus, sendo ao mesmo tempo reveladoras e seletivas: revelam aos que têm ouvidos para ouvir e encobrem aos que rejeitam a luz da verdade. Jesus mesmo explicou que falava por parábolas para que, “vendo, não vejam; e ouvindo, não entendam” (Lucas 8:10), cumprindo assim as palavras de Isaías (Isaías 6:9-10; cf. Mateus 13:13-15).

Portanto, as parábolas não são meras ilustrações didáticas, mas manifestações da justiça e da misericórdia divinas — revelam a verdade aos humildes e ocultam-na dos soberbos. Ao adotá-las, Jesus tanto confirmava sua identidade profética quanto expunha o coração daqueles que o ouviam.

Reconhecer Jesus como o Cristo exigia mais do que admirar sua sabedoria ou milagres: exigia crer nas Escrituras que testificavam d’Ele. A mesma palavra que o povo recusou — e que foi falada em parábolas — é hoje proclamada com clareza à Igreja: Cristo é o Filho de Deus, e quem nele crê tem a vida eterna.

“Estas coisas vos escrevi… para que saibais que tendes a vida eterna.” (1 João 5:13).

A Igreja de Cristo, embora não seja o alvo direto das parábolas proferidas por Jesus, pode delas extrair preciosas lições espirituais. Por meio das parábolas, evidencia-se que o véu da lei — abolido por Cristo — não permanece sobre os nossos corações, como ainda está posto sobre os de Israel (cf. 2 Coríntios 3:15). Ao cristão cabe, portanto, perseverar com firmeza no propósito de entrar no repouso providenciado por Deus, examinando com discernimento os exemplos de Israel, conforme testemunhado na Lei, nos Profetas e nos Salmos — exemplos estes também ilustrados nas parábolas — para que não incorramos nos mesmos erros (cf. Hebreus 4:11).

As Escrituras afirmam que as coisas que aconteceram a Israel foram registradas como figuras, para nossa advertência: para que não cobicemos coisas más, não sejamos idólatras, não tentemos ao Senhor, nem murmuremos, como eles o fizeram (cf. 1 Coríntios 10:6-11). Assim, ainda que as parábolas pertençam a um contexto profético concernente a Israel, servem à Igreja como exemplos instrutivos e advertências espirituais.

Contudo, diferentemente de Israel, à Igreja não restam mais símiles, adágios ou enigmas. O mistério outrora oculto foi plenamente revelado: Cristo, em vós, esperança da glória (cf. 1 Coríntios 2:7; Efésios 1:9; Colossenses 1:26; 1 Timóteo 3:9 e 16).

A Igreja não está em trevas quanto ao mistério da vontade de Deus, pois possui a unção da Palavra e sabe todas as coisas (cf. 1 João 2:20, 27). Além disso, tendo recebido o Espírito Santo, é por Ele guiada a toda a verdade, pois o Espírito glorifica a Cristo ao revelar o que é d’Ele (cf. João 16:13-14).

Conforme o próprio Senhor anunciou:

“Disse-vos isto por parábolas; chega, porém, a hora em que não vos falarei mais por parábolas, mas abertamente vos falarei acerca do Pai… Disse-lhe os seus discípulos: Eis que agora falas abertamente, e não dizes parábola alguma.” (João 16:25, 29)

Assim, à Igreja foi dada a revelação plena: não mais por sombras, mas por luz manifesta em Cristo.

O que observar ao interpretar uma parábola

Uma abordagem proveitosa na interpretação das parábolas é atentar para a observação final de Jesus, pois ela geralmente revela de forma direta a lição central da narrativa. Valorizar esse desfecho ajuda o leitor a manter o foco na mensagem essencial, evitando interpretações excessivamente alegóricas que possam desviar da intenção original do ensino. Por exemplo, na parábola do filho pródigo (Lucas 15), o objetivo de Jesus é destacar a alegria no céu por um pecador que se arrepende e retorna ao Pai. Nesse contexto, elementos como as bolotas que os porcos comiam funcionam apenas como parte do cenário da degradação do filho mais novo, sem a necessidade de atribuições simbólicas. O ponto principal está na restauração, no arrependimento e na misericórdia do Pai — essa é a essência da parábola. Interpretar corretamente as parábolas, portanto, envolve sensibilidade à estrutura do ensino de Cristo e fidelidade ao propósito que ele mesmo destaca.

Outro princípio essencial na interpretação das parábolas é o cuidado de não atribuir significado alegórico a elementos que não foram explicitamente interpretados pelo próprio Cristo. Quando Jesus explica uma parábola, Ele mesmo delimita quais imagens devem ser compreendidas simbolicamente — e dentro de qual chave hermenêutica. Fora disso, cabe ao intérprete manter-se reverente à revelação, evitando extrapolações arbitrárias.

Tomemos como exemplo a parábola do semeador. Nos registros sinóticos (Mateus 13; Marcos 4; Lucas 8), Jesus explica que a semente é a palavra de Deus (Lucas 8:11) e que os diversos tipos de solo representam os diferentes corações que ouvem a mensagem (Mateus 13:19). No entanto, o personagem que “sai a semear” não é identificado diretamente como Cristo. Marcos 4:14 afirma apenas: “O que semeia, semeia a palavra”. Ou seja, trata-se de uma figura genérica: pode se referir a Cristo, aos apóstolos ou a qualquer um que pregue a Palavra. A parábola, portanto, não fundamenta a identificação exclusiva do semeador com Jesus.

Já na parábola do trigo e do joio (Mateus 13:24–30, 36–43), o próprio Cristo fornece uma interpretação detalhada, estabelecendo uma mudança significativa nos símbolos em relação à parábola do semeador. Aqui, Jesus identifica-se explicitamente como aquele que semeia a boa semente:

“O que semeia a boa semente é o Filho do Homem” (Mateus 13:37).

Além disso, a “boa semente” já não representa a Palavra de Deus, como ocorria na parábola anterior, mas sim os filhos do Reino: “o campo é o mundo; a boa semente são os filhos do reino, e o joio são os filhos do maligno” (Mateus 13:38). Isso revela que, embora ambas as parábolas tratem de semeadura, os elementos simbólicos são radicalmente distintos. O campo, por exemplo, não representa mais o “coração dos homens”, mas o mundo, e a semente passa a ser identificada com pessoas, e não com a mensagem.

Esse contraste é fundamental para a correta exegese das parábolas: os significados não são transferíveis entre elas automaticamente. Cada parábola possui sua própria chave interpretativa, e quando essa chave é fornecida por Cristo, o intérprete deve se limitar a ela com reverência. O erro de generalizar símbolos entre parábolas diferentes pode levar a distorções doutrinárias ou aplicações impróprias.

Em suma, a parábola do trigo e do joio exemplifica a importância de atentar à explicação fornecida por Jesus — pois Ele mesmo, ao reinterpretar os símbolos usados, nos ensina que a linguagem parabólica é dinâmica, adaptada ao propósito específico de cada ensinamento.

Presumir interpretações além das fornecidas pelo texto é correr o risco de espiritualizar excessivamente e obscurecer o ensino pretendido. A fidelidade exegética exige que se respeite os limites estabelecidos na própria explicação dada por Cristo. Quando Ele revela o sentido, devemos acolhê-lo com clareza; quando silencia, devemos preservar o silêncio interpretativo.

É comum que diversas parábolas de Jesus comecem com a figura de um certo homem ou um pai de família que se ausenta por algum tempo. No entanto, interpretar essa figura como sendo invariavelmente Cristo pode ser um equívoco, especialmente quando a própria narrativa apresenta elementos que contrariam essa associação direta.

Por exemplo, na parábola dos lavradores maus (Mateus 21:33–41), o “pai de família” é quem planta a vinha, cerca-a, constrói o lagar e a torre, e depois se ausenta. Contudo, ao enviar seus servos e, por fim, seu próprio filho para cobrar os frutos da vinha, a identidade simbólica desse “pai de família” torna-se clara: ele representa Deus Pai, que envia primeiramente os profetas e, por fim, seu Filho, o herdeiro — Jesus Cristo. Portanto, nesse caso, o pai de família não pode ser identificado com Cristo, mas com o Pai que envia o Filho.

Em outras parábolas, como a dos talentos (Mateus 25:14-30), novamente aparece um homem que parte para longe e confia bens a seus servos, retornando posteriormente para ajustar contas. No entanto, o texto não especifica se se trata do Pai ou do Filho. Assim, qualquer tentativa de estabelecer uma identidade precisa para esse personagem pode ultrapassar os limites do próprio texto.

Dessa forma, o mais prudente é considerar que tais personagens cumprem função ilustrativa dentro da estrutura pedagógica da parábola. Em vez de atribuir-lhes identidades fixas, o intérprete deve focar no propósito central da narrativa e na aplicação que Jesus faz ao final, pois é aí que reside o ensinamento teológico essencial.

A Parábola dos Talentos

Após demonstrarmos que o uso das parábolas por Jesus está solidamente fundamentado nas profecias do Antigo Testamento — as quais apontam para Ele como o Cristo prometido aos patriarcas — torna-se essencial analisar a parábola dos talentos com vistas a esclarecer um equívoco amplamente disseminado: a ideia de que cristãos que “enterram seus talentos” estarão sujeitos à condenação eterna. Embora a parábola evidencie que os servos receberam os talentos segundo sua própria capacidade — com o objetivo de multiplicá-los —, a interpretação comum que associa os talentos a habilidades naturais ou dons pessoais compromete a coerência interna da narrativa e distorce seu sentido original.

Portanto, com a revisão dos fundamentos hermenêuticos com relação a interpretação das parábolas devidamente firmados, estamos aptos a interpretar com clareza e fidelidade a parábola dos talentos, situando-a no contexto escatológico e profético em que foi proferida — especialmente no conjunto de advertências dirigidas por Jesus à geração judaica que precederá a sua vinda.

O contexto no qual a parábola dos talentos foi registrada por Mateus no sermão profético

A parábola dos talentos, registrada em Mateus 25:14-30, está inserida em um extenso discurso escatológico iniciado no capítulo 24, no qual Jesus responde a três perguntas de seus discípulos:

“E, quando Jesus ia saindo do templo, aproximaram-se dele os seus discípulos para lhe mostrarem a estrutura do templo. Jesus, porém, lhes disse: Não vedes tudo isto? Em verdade vos digo que não ficará aqui pedra sobre pedra que não seja derrubada. E, estando assentado no Monte das Oliveiras, chegaram-se a ele os seus discípulos em particular, dizendo: Dize-nos, quando serão essas coisas, e que sinal haverá da tua vinda e do fim do mundo?” (Mateus 24:1-3).

A indagação dos discípulos revela a estreita associação que faziam entre três eventos fundamentais: a destruição do templo, a vinda do Messias e o fim dos tempos. Para eles, tais eventos estavam interligados e marcariam o cumprimento definitivo das promessas feitas por Deus aos patriarcas e profetas. Segundo sua expectativa escatológica, a queda do templo seria o sinal imediato da manifestação gloriosa do Cristo e da instauração do Reino davídico em poder e glória.

Contudo, é possível que os discípulos não tivessem compreendido a distinção entre a profecia sobre a destruição do templo de Jerusalém — reconstruído por ordem de Ciro e ampliado por Herodes — e a declaração feita por Jesus no início de seu ministério, ao referir-se ao seu corpo como o verdadeiro templo:

“Jesus respondeu, e disse-lhes: Derribai este templo, e em três dias o levantarei.” (João 2:19).

Ainda imersos nas categorias tradicionais da escatologia judaica, os discípulos não discerniam, naquele momento, que Jesus se referia específica e literalmente à destruição do templo físico. A confusão era compreensível, dada a centralidade do templo na teologia de Israel como lugar da presença divina e símbolo da aliança. Por isso, ao ouvirem Jesus anunciar que “não ficará pedra sobre pedra”, interpretaram-no como um juízo escatológico, imediatamente associado à vinda do Messias.

Na ocasião, os discípulos estavam maravilhados com a beleza do templo e de seus adornos. A declaração de Jesus sobre sua destruição causou perplexidade, levando-os a questionar: “Quando serão essas coisas?”. Para eles, a destruição do templo seria o prenúncio da restauração messiânica do Reino a Israel.

Jesus, por sua vez, inicia seu discurso profético descrevendo eventos que, hoje sabemos, não se referem diretamente à destruição do templo por Tito no ano 70 d.C. Ainda que a destruição tenha se cumprido historicamente, os sinais que Jesus apresenta como “princípio das dores” — falsos cristos, guerras, fomes, pestes, terremotos — apontam para um período futuro.

Em seguida, Jesus prediz um tempo de perseguição e extermínio contra os seus seguidores, especificamente “por causa do seu nome”. Essa especificação difere dos atos de antissemitismo que marcaram a história judaica, indicando que tais eventos ainda estão por vir.

Cristo anuncia um período de escândalo entre os judeus, traições internas, surgimento de falsos profetas e esfriamento do amor. No entanto, promete salvação aos que perseverarem até o fim, momento em que o evangelho será pregado a todas as nações como testemunho antes do desfecho final.

Posteriormente, Jesus retrocede a narrativa para instruir sobre o período da grande tribulação, aponta os sinais de sua vinda e narra três parábolas, sendo a última a dos talentos.

O contexto no qual Lucas registra a parábola das minas

Na parábola das minas (equivalente a sessenta vezes menos que um talento), registrada por Lucas, o evangelista explicita o motivo que levou Jesus a contá-la. Diferente de Mateus, que insere a parábola no sermão profético, Lucas a introduz logo após o encontro com Zaqueu, o publicano.

A declaração de Jesus — “Hoje veio salvação a esta casa, pois também este é filho de Abraão” — escandalizou os religiosos da época. Como poderia um publicano, visto como pecador, ser herdeiro das promessas?

Entretanto, por estarem perto de Jerusalém, muitos acreditavam que o Reino de Deus estava prestes a se manifestar visivelmente. Lucas registra que Jesus contou a parábola justamente para corrigir essa expectativa equivocada:

“Ouvindo eles estas coisas, Jesus propôs uma parábola, por estar perto de Jerusalém, e cuidarem que logo se havia de manifestar o Reino de Deus.” (Lucas 19:11).

Assim, tanto em Lucas quanto em Mateus, as parábolas das minas e dos talentos visam corrigir a noção de que o Reino se manifestaria imediatamente. Ambas tratam da ausência temporária do Senhor, da responsabilidade dos servos e da consequente prestação de contas.

As diferenças da parábola dos talentos em relação à parábola das minas

Em ambas as parábolas, um homem parte para longe, confiando recursos valiosos a seus servos, com a expectativa de que sejam multiplicados. Os servos fiéis são recompensados; o negligente é reprovado.

Porém, enquanto Mateus enfatiza o juízo individual, Lucas acrescenta um elemento coletivo: os concidadãos que rejeitam o governo do homem ausente:

“Mas os seus concidadãos odiavam-no, e mandaram após ele embaixadores, dizendo: Não queremos que este reine sobre nós.” (Lucas 19:14).

Esse elemento remete à Parábola dos Lavradores Maus (Lucas 20:9-19), onde o dono da vinha é rejeitado por lavradores que matam até mesmo seu filho. O destino dos lavradores é a destruição, conforme anunciado nas Escrituras:

“A pedra que os edificadores rejeitaram tornou-se a principal da esquina”.

Na parábola das minas, ao retornar, o homem recompensa os servos fiéis e condena não apenas o servo negligente, mas também os inimigos que rejeitaram seu reinado:

“E quanto àqueles meus inimigos, que não quiseram que eu reinasse sobre eles, trazei-os aqui, e matai-os diante de mim.” (Lucas 19:27).

Outro ponto de distinção é que, em Mateus, a parábola é antecedida por uma exortação à vigilância, enquanto em Lucas esse elemento não está presente na mesma sequência narrativa:

“Vigiai, pois, porque não sabeis o dia nem a hora em que o Filho do homem há de vir. Porque isto é também como um homem que, partindo para fora da terra, chamou os seus servos, e entregou-lhes os seus bens.” (Mateus 25:13-14).

Assim, ambas as parábolas compartilham a estrutura essencial, mas apresentam ênfases e propósitos distintos: Mateus foca na responsabilização pessoal diante da ausência do Senhor, enquanto Lucas destaca também a rejeição coletiva do rei por parte do seu povo.

Comparando o registro do sermão profético de Mateus, Marcos e Lucas

O registro do sermão profético nos evangelhos sinóticos apresenta correspondências temáticas essenciais, mas também diferenças significativas, especialmente no que diz respeito à inclusão de parábolas e ênfases escatológicas.

Somente o evangelho de Mateus inclui as parábolas dos dois servos, das dez virgens, dos talentos e, por fim, a descrição do Messias entronizado e o juízo das nações. Essa singularidade indica que, embora as parábolas tenham valor ilustrativo e aprofundem a compreensão espiritual do sermão, elas não são essenciais para a estrutura básica da mensagem profética, que se mantém coerente nos três relatos.

Quadro comparativo do sermão profético nos evangelhos sinóticos

Tema / Elemento Mateus 24–25 Marcos 13 Lucas 21

Endereço geográfico (Monte das Oliveiras) Sim Sim Sim

Público imediato (discípulos) Sim (Mt 24:3) Sim (Mc 13:3) Sim (Lc 21:7)

Pergunta dos discípulos Tríplice: destruição do templo, sinal da vinda, fim do mundo Dupla: quando e qual sinal Dupla: quando e qual sinal

Destruição do templo Sim (24:2) Sim (13:2) Sim (21:6, com mais detalhes históricos)

Sinais preliminares (guerras, fomes etc.) Sim (24:6-8) Sim (13:7-8) Sim (21:9-11)

Perseguição aos fiéis Sim (24:9-13) Sim (13:9-13) Sim (21:12-19, mais detalhado)

Abominação da desolação Sim (24:15-20) Sim (13:14-18) Sim (21:20-24), com referência a Jerusalém cercada

Grande tribulação Sim (24:21-28) Sim (13:19-23) Mais focado na queda de Jerusalém

Vinda do Filho do Homem Sim (24:29-31) Sim (13:24-27) Sim (21:25-28)

Parábola da figueira Sim (24:32-35) Sim (13:28-31) Sim (21:29-33, inclui “todas as árvores”)

Advertência à vigilância Sim (24:36–51; 25:13) Sim (13:32-37) Sim (21:34-36)

Parábola dos dois servos Sim (24:45–51) ❌ ❌

Parábola das dez virgens Sim (25:1–13) ❌ ❌

Parábola dos talentos Sim (25:14–30) ❌ ❌

Juízo das nações (trono da glória) Sim (25:31–46) ❌ ❌

A distinção entre os evangelhos pode ser observada a partir da advertência à vigilância. Mateus a registra em dois momentos: logo após a parábola da figueira e novamente antes da parábola dos talentos. Nesse intervalo, ele insere as parábolas dos dois servos, das dez virgens e dos talentos, culminando na cena do juízo das nações (Mateus 24:45 – 25:46).

Lucas também inicia com a parábola da figueira, reforça a necessidade da vigilância e conclui com uma exortação que ressalta a prontidão espiritual: estar de pé diante do Filho do Homem (Lucas 21:36).

Marcos, por sua vez, apresenta a parábola da figueira e conclui com uma ilustração única, enfatizando igualmente a vigilância:

“É como se um homem, partindo para fora da terra, deixasse a sua casa, e desse autoridade aos seus servos, e a cada um a sua obra, e mandasse ao porteiro que vigiasse” (Marcos 13:34).

Assim, pode-se concluir que, apesar das diferenças narrativas, os três evangelhos convergem na mensagem central: a necessidade de vigilância, prontidão e fidelidade diante dos eventos escatológicos. Mateus, no entanto, amplia essa mensagem por meio das parábolas, conferindo ao seu relato maior profundidade teológica e aplicação prática ao contexto judaico da iminente vinda do Messias.

Lucas registrou mais dois sermões com elementos conexos ao sermão profético

Outro elemento que nos permite inferir que as parábolas registradas por Mateus não são essenciais à interpretação do sermão profético, apesar do seu valor ilustrativo, é o fato de Lucas ter registrado mais dois discursos de Jesus com conteúdo semelhante ao do sermão profético.

A espera do Senhor que volta das bodas

Durante um sermão semelhante ao sermão da montanha, no qual Jesus falava à multidão e, em dado momento, volta-se aos discípulos, Ele os exorta à vigilância com a figura da candeia acesa, também presente na parábola das dez virgens:

“Estejam cingidos os vossos lombos, e acesas as vossas candeias.” (Lucas 12:35; cf. Mateus 25:1-13).

Na sequência, Jesus usa a mesma imagem registrada por Marcos ao final do sermão profético. Compare-se os dois trechos:

“E sede vós semelhantes aos homens que esperam o seu senhor, quando houver de voltar das bodas, para que, quando vier, e bater, logo possam abrir-lhe… Sabei, porém, isto: que, se o pai de família soubesse a que hora havia de vir o ladrão, vigiaria, e não deixaria minar a sua casa.” (Lucas 12:36-39)

“Mas daquele dia e hora ninguém sabe… É como se um homem, partindo para fora da terra, deixasse a sua casa, e desse autoridade aos seus servos… Vigiai, pois, porque não sabeis quando virá o senhor da casa…” (Marcos 13:32-37).

Esse sermão do capítulo 12 guarda semelhança com o sermão da montanha, embora a parábola do senhor que volta das bodas utilize uma figura semelhante à registrada por Marcos: o homem que se ausenta de sua terra, confia autoridade a seus servos e designa um porteiro para vigiar (Marcos 13:35).

A parábola registrada por Lucas enfatiza a vigilância ativa como atitude esperada dos servos, em antecipação ao retorno inesperado do seu senhor que volta das bodas. A advertência é clara: a vinda do Filho do Homem ocorrerá de modo imprevisível, exigindo constante prontidão.

O mordomo fiel e prudente

Embora Jesus estivesse dirigindo-se aos discípulos (Lucas 12:22), Simão Pedro se mostra intrigado com o alcance da mensagem e pergunta se a parábola era destinada apenas aos discípulos ou também a todos. Em resposta, Jesus apresenta uma nova parábola:

“E disse o SENHOR: Qual é, pois, o mordomo fiel e prudente, a quem o senhor pôs sobre os seus servos, para lhes dar a tempo a ração? […] Mas, se aquele servo disser em seu coração: O meu senhor tarda em vir […] virá o senhor daquele servo no dia em que o não espera, e numa hora que ele não sabe, e separá-lo-á, e lhe dará a sua parte com os infiéis.” (Lucas 12:41–46).

Considerando a ilustração registrada por Marcos, percebe-se que o discurso de Lucas possui conexão direta com o sermão profético. No entanto, a pergunta de Pedro a respeito da parábola do Senhor que retorna das bodas, bem como a introdução subsequente da parábola dos dois mordomos por parte de Jesus, evidenciam que o alerta à vigilância se estendia a todo o povo judeu, e não apenas aos discípulos.

Pedro acompanhava atentamente enquanto Jesus discursava à multidão (Lucas 12:1-21) e observou quando o discurso se voltou especificamente aos discípulos (Lucas 12:22-35). Contudo, ao ouvir a parábola dos homens que aguardavam o retorno do senhor vindo das bodas, Pedro percebeu que a advertência não se restringia ao grupo dos seguidores mais próximos, mas alcançava também toda a nação.

Embora essa parábola contenha elementos escatológicos, sua função imediata era denunciar a ausência de vigilância por parte do povo. A parábola do mordomo fiel e prudente alude aos líderes religiosos de Israel, incumbidos de alimentar os demais servos do Senhor. No entanto, agiam como o servo descrito na narrativa: “O meu senhor tarda em vir”; e por isso, espancava os servos e servas, comia, bebia e se embriagava.

Desde os tempos antigos, Israel aguardava a manifestação do Messias, mas não se mantinha vigilante. Aqueles que deveriam ser os atalaias da nação estavam adormecidos e não reconheceram a visitação do seu Senhor. Jesus veio em carne e habitou entre eles, mas foi rejeitado pela maioria, sendo reconhecido apenas por seus discípulos.

Para os discípulos, a “ausência” do Senhor se deu por meio de sua morte, pois foi por esse meio que Ele edificou a sua Igreja, o seu Corpo (Mateus 9:15). Para os judeus, por outro lado, Cristo é o Senhor que ocultou o seu rosto da casa de Israel, conforme fora anunciado em Deuteronômio:

“Então se acenderá a minha ira contra ele naquele dia, e os deixarei, e esconderei deles o meu rosto, e serão devorados…” (Deuteronômio 31:17-18);

“E disse mais: Esconderei o meu rosto deles, verei qual será o seu fim; porque são geração perversa, filhos em quem não há fidelidade.” (Deuteronômio 32:20).

A vigilância esperada dos judeus deveria ser semelhante à postura de Isaías, que declarou:

“Esperarei ao Senhor, que esconde o seu rosto da casa de Jacó, e a ele aguardarei.” (Isaías 8:17).

Em seguida, Jesus anuncia a essência de sua missão com base em uma profecia de Miqueias, evidenciando que o povo de Israel, bem como seus líderes, não estavam vigilantes:

“O melhor deles é como um espinho; o mais reto é pior do que a sebe de espinhos; veio o dia dos teus vigias, veio o dia da tua punição; agora será a sua confusão. Não creiais no amigo, nem confieis no vosso guia; daquela que repousa no teu seio, guarda as portas da tua boca. Porque o filho despreza ao pai, a filha se levanta contra sua mãe, a nora contra sua sogra, os inimigos do homem são os da sua própria casa. Eu, porém, olharei para o SENHOR; esperarei no Deus da minha salvação; o meu Deus me ouvirá.” (Miqueias 7:4-7).

Jesus, em meio aos homens, era aquele que as atalaias de Israel aguardavam. No entanto, sua vinda também significava juízo e confusão. Por isso, Ele declara à multidão que veio lançar fogo sobre a terra, e esse fogo já estava aceso. Faltava apenas um último ato: sua crucificação e morte. A expectativa por esse “batismo” era fonte de profunda angústia para Cristo (Lucas 12:49-50).

Após afirmar que traria dissensão — como predito pelos profetas — enquanto muitos esperavam que trouxesse paz (Lucas 12:51-52), Jesus repreende a multidão por sua capacidade de discernir os sinais meteorológicos, mas sua completa incapacidade de reconhecer que aquele era o tempo da visitação do Messias (Lucas 12:54-57), selando assim o juízo futuro.

Para reforçar que a essência do sermão profético não reside nas parábolas, é importante lembrar que seus elementos centrais já haviam sido apresentados aos discípulos antes mesmo da narrativa da parábola das minas.

Lucas relata que, quando os fariseus interrogaram Jesus sobre quando viria o Reino de Deus, Ele respondeu de forma categórica: o Reino não viria com aparências externas observáveis. Por serem espiritualmente cegos e insensíveis, os fariseus não discerniram que o Reino já estava entre eles:

“E, interrogado pelos fariseus sobre quando havia de vir o reino de Deus, respondeu-lhes, e disse: O reino de Deus não vem com aparência exterior. Nem dirão: Ei-lo aqui, ou: Ei-lo ali; porque eis que o reino de Deus está entre vós.” (Lucas 17:20-21).

Quadro comparativo dos dois sermões proféticos:

Elemento / Tema Lucas 17:20–37 Lucas 21:5–36

Público-alvo Fariseus (v.20), depois discípulos (v.22) Discípulos (v.5 e v.7)

Motivação do discurso Pergunta dos fariseus: “Quando virá o Reino de Deus?” Comentário sobre a beleza do templo

Local e ocasião Indefinido (em trânsito) No templo, depois no Monte das Oliveiras

Ênfase temporal Súbita vinda do Reino de Deus Sinais antes da destruição de Jerusalém e fim dos tempos

Ilustrações usadas Dias de Noé e Ló (17:26–30); mulher de Ló (v.32) Figuração da figueira e sinais celestes (21:29–33)

Advertência principal “Quem quiser salvar a sua vida, perdê-la-á” “Vigiai, para que possais escapar de todas estas coisas”

Eventos súbitos Um será tomado, outro deixado (v.34–36) Queda de Jerusalém, sinais cósmicos (v.20–28)

Foco geográfico Nenhum local específico, mas menção a fuga (v.31) Jerusalém e Judeia são centrais (v.20–24)

Expressão-chave “Onde estiver o corpo, aí se ajuntarão as águias” (v.37) “Quando virdes estas coisas acontecerem…” (v.31)

Tensão escatológica Separação entre os que serão tomados e deixados Punição sobre Israel e libertação dos fiéis

Relação com o Antigo Testamento Ênfase nos juízos históricos (Noé, Ló, Sodoma) Citações implícitas de Daniel e Zacarias

Aos discípulos, por outro lado — a quem era dado conhecer os mistérios do Reino — Jesus revelou abertamente os eventos que antecederiam a sua vinda, sem recorrer a enigmas (Lucas 17:22).

Jesus os advertiu que eles ansiariam ver um dos dias do Filho do Homem, mas não o veriam. E quando se ouvisse: “Ei-lo aqui!” ou “Ei-lo ali!”, não deveriam dar ouvidos, pois a vinda do Filho do Homem seria como o relâmpago que ilumina de uma extremidade à outra do céu: evidente e notória (Lucas 17:22–24). Antes de vir de modo visível e notório, porém, seria necessário que Jesus padecesse e fosse rejeitado por aquela geração (Lucas 17:25).

Para ilustrar o caráter repentino e inescapável da sua vinda, Jesus recorreu aos dias de Noé e de Ló. Tanto no tempo de Noé quanto de Ló as pessoas viviam em normalidade social e material até que veio o juízo súbito. Em ambos os casos, os justos foram retirados antes da destruição — figuras que ilustram o arrebatamento da igreja (Lucas 17:26–30).

Apesar da aparente normalidade naqueles dias que antecederão a volta do Filho do Homem, Jesus dá instrução clara e específica:

“Naquele dia, quem estiver no telhado, tendo as suas alfaias em casa, não desça a tomá-las; e, da mesma sorte, o que estiver no campo não volte para trás. Lembrai-vos da mulher de Ló. Qualquer que procurar salvar a sua vida, perdê-la-á, e qualquer que a perder, salvá-la-á. Digo-vos que naquela noite estarão dois numa cama; um será tomado, e outro será deixado. Duas estarão juntas, moendo; uma será tomada, e outra será deixada. Dois estarão no campo; um será tomado, o outro será deixado.” (Lucas 17:31-36).

Essa advertência aponta para a essência da vigilância: a renúncia imediata ao apego dos bens terrenos diante da iminência da destruição. Qualquer que procurar salvar sua vida — apegando-se aos bens, à rotina, ou às estruturas de segurança humana — a perderá; mas quem a perder por causa da obediência a essa orientação dada por Jesus há dois mil anos, a salvará (v. 33).

O juízo será seletivo: dois estarão na mesma posição, mas um será levado e o outro deixado. Esse padrão de divisão (50%) aparece repetidamente (vv. 34–36), indicando um remanescente que escapa, enquanto outros sucumbem. Essa distinção não se refere à Igreja, pois esta é um só corpo, indivisível, e não pode ser “meio arrebatada”. O evento descrito por Jesus corresponde, antes, à realidade profetizada por Zacarias:

“E a cidade será tomada, e as casas serão saqueadas, e as mulheres forçadas; e metade da cidade sairá para o cativeiro, mas o restante do povo não será cortado da cidade.” (Zacarias 14:2).

Cada qual deverá fugir para os montes, assim como Ló e sua família foram instados a deixar Sodoma antes da destruição. O exemplo da mulher de Ló é particularmente significativo: ao olhar para trás, revelando apego aos bens materiais e à vida que deixara, perdeu aquilo que mais deveria preservar — a própria vida. Seus pertences representavam sua existência terrena; sua hesitação demonstrou que seu coração ainda estava preso ao mundo condenado e, por isso, pereceu.

Jesus, ao advertir quanto ao “dia do Filho do Homem”, relembra esse episódio como um alerta: qualquer que, naquele dia, se prender aos elementos do cotidiano, como faziam as pessoas nos dias de Noé e Ló, evidencia não ser um servo vigilante e fiel. Qualquer que achar que dará tempo de tratar de algum assunto de ordem pessoal, será surpreendido.

Diante desse quadro profético de juízo iminente e separação, os discípulos perguntam a Jesus: “Onde, Senhor?” A resposta é breve e enigmática:

“Onde estiver o corpo, aí se ajuntarão as águias.” (Lucas 17:37).

Essa expressão, de natureza proverbial, tem sido objeto de múltiplas interpretações na história da exegese cristã. Contudo, considerando o modo como Jesus frequentemente se socorria das Escrituras hebraicas para responder a seus interlocutores, é plausível compreender que aqui Ele remete ao juízo anunciado em Deuteronômio contra a infidelidade de Israel:

“E o teu cadáver servirá de comida a todas as aves dos céus, e aos animais da terra; e ninguém os espantará.” (Deuteronômio 28:26).

Análise dos elementos da parábola dos talentos

A parábola dos talentos (Mateus 25:14–30), inserida antes do julgamento das nações (Mateus 25:31–46), encerra a parte narrativa do sermão profético de Jesus e deve ser interpretada dentro de seu contexto escatológico. Antes da parábola, Jesus profetizou acerca de um tempo de grande tribulação, perseguição e nações invadindo Jerusalém, culminando na vinda de Cristo e na revelação do Reino de Deus em sua manifestação plena sobre Israel e as nações. A parábola dos talentos não tem conexão com o arrebatamento da Igreja, nem com o Tribunal de Cristo, mas sim com a vinda do Filho do Homem em glória para reinar e julgar conforme os critérios estabelecidos para Israel e para as nações.

Entrega dos talentos e responsabilidade delegada

Após narrar as parábolas dos dois servos e das dez virgens, Jesus apresenta aos discípulos mais uma parábola. Ele descreve um homem que, ao ausentar-se para uma terra distante, confiou seus bens a três servos, distribuindo talentos conforme a capacidade de cada um: cinco ao primeiro, dois ao segundo e um ao terceiro. O primeiro servo negociou e dobrou o valor recebido; o segundo também multiplicou os dois talentos. O terceiro, no entanto, cavou um buraco e escondeu o talento. Passado muito tempo, o senhor retornou e chamou os servos para prestarem contas.

O servo que havia recebido cinco talentos apresentou outros cinco, afirmando tê-los granjeado. O senhor o elogiou como servo bom e fiel, prometendo colocá-lo sobre muito e convidando-o a entrar no gozo do seu senhor. O segundo servo também recebeu o mesmo reconhecimento e recompensa por ter dobrado os dois talentos recebidos. Já o terceiro servo justificou sua conduta afirmando temer o senhor, a quem via como severo, e por isso optara por esconder o talento na terra, devolvendo apenas o que lhe fora confiado.

O senhor, porém, o repreende como “mau e negligente servo”, argumentando que, se de fato ele conhecia a severidade do seu senhor, deveria ao menos ter depositado o dinheiro com os banqueiros para render juros. Em seguida, ordena que o talento seja retirado do servo e entregue àquele que possuía dez talentos.

A conclusão da parábola dos talentos retoma alguns princípios espirituais que Jesus já havia declarado em outros discursos sobre o juízo de Israel, evidenciando que a responsabilidade é individual diante da revelação recebida.

Dois princípios fundamentais emergem da conclusão da parábola dos talentos:

(a) “A qualquer que tiver será dado, e terá em abundância; mas ao que não tiver, até o que tem lhe será tirado” – Esse princípio também aparece em Mateus 13:12, quando Jesus explica o significado da parábola do semeador. Quando os discípulos perguntaram por que Jesus ensinava por meio de parábolas, Ele respondeu que a eles fora dado conhecer os mistérios do Reino dos Céus, mas à multidão, não. Assim, “aquele que tem, se dará, e terá em abundância; mas àquele que não tem, até aquilo que tem lhe será tirado.” Aos discípulos foi dado conhecer o Reino de Deus, que é Cristo, e por isso receberiam mais e teriam em abundância; mas aqueles que rejeitaram a Cristo não tinham, e, portanto, até o que possuíam seria tirado e dado a outro povo (Mateus 21:43).

(b) “Sabias que ceifo onde não semeei e ajunto onde não espalhei?” – Embora não seja uma declaração afirmativa do senhor, mas a repetição do argumento do próprio servo negligente, a resposta final remete ao princípio registrado em Lucas 19:22: “Mau servo, pela tua boca te julgarei”. Esse princípio também ecoa no julgamento dirigido aos fariseus, a quem Jesus chama de “raça de víboras” (cf. Mt 12:34) e aplica os mesmos critérios de juízo conforme Mateus 13:12 e 15.

A partir da parábola do semeador, compreendemos que aos discípulos que “tinham” lhes seria dado mais porque haviam recebido a semente — Cristo — e produziam fruto. Aqueles, porém, que não receberam a semente com vigilância e entendimento espiritual, não tinham a Cristo e, por isso, não podiam frutificar.

O fruto, conforme Hebreus 13:15, refere-se à confissão de que Jesus é o Cristo. Somente quem possui um novo coração e um espírito renovado pela semente incorruptível do evangelho pode professar essa verdade. Os fariseus, por sua vez, não podiam produzir esse fruto, pois a palavra do evangelho não penetrava seus corações endurecidos.

Durante o seu ministério terreno, o encargo de Israel era reconhecer Jesus como o Messias prometido e produzir os frutos correspondentes a essa revelação. Durante três anos, Jesus buscou esse fruto entre os filhos de Israel, sem o encontrar (cf. Lucas 13:6-9). O fruto esperado era a confissão de que Ele é o Cristo, o Filho de Deus. Ao rejeitá-lo, a nação mostrou-se infrutífera e, por isso, seria cortada. Dessa forma, o ministério de Jesus passou a frutificar entre os gentios, em cumprimento à profecia de Isaías (Mateus 12:15-21).

A verdadeira metanoia — a mudança de entendimento anunciada por João Batista — se manifesta na confissão de que Jesus é o Cristo. Esse é o fruto esperado pelo Senhor.

“Portanto, eu vos digo que o Reino de Deus vos será tirado, e será dado a uma nação que dê os seus frutos.” (Mateus 21:43).

O que o servo negligente disse serviu de base para o julgamento do seu senhor, evidenciando outro princípio fundamental:

“Não pode a árvore boa dar maus frutos; nem a árvore má dar frutos bons.” (Mateus 7:18).

Esse princípio está diretamente relacionado ao juízo:

“E também agora está posto o machado à raiz das árvores; toda a árvore, pois, que não produz bom fruto, é cortada e lançada no fogo.” (Mateus 3:10).

Se o coração permanece mau desde o nascimento (cf. Salmo 58:3-4), então as palavras do homem naturalmente expressam veneno e engano. Por isso, para que se tenha um coração bom, é necessário nascer de novo, como rogou Davi:

“Cria em mim, ó Deus, um coração puro, e renova em mim um espírito reto.” (Salmo 51:10).

Com relação aos fariseus incrédulos, Jesus declara que, no dia do juízo, os homens prestarão contas de toda palavra ociosa. A justificação ou a condenação virá daquilo que o homem professa, como também ensina o livro de Provérbios:

“A morte e a vida estão no poder da língua” (Provérbios 18:21);

“Por tuas palavras serás justificado, e por tuas palavras serás condenado.” (Mateus 12:37).

Sendo chamados de “raça de víboras”, os escribas e fariseus eram incapazes de proferir o bem, pois de um coração corrompido só procede veneno. Como não foram regenerados pela palavra de Deus, falavam da abundância do mal presente em seus corações, conforme os salmos:

“Alienam-se os ímpios desde a madre; andam errados desde que nasceram, falando mentiras. O seu veneno é semelhante ao veneno da serpente; são como a víbora surda que tapa os ouvidos.” (Salmo 58:3-4);

“Eis que em iniquidade fui formado, e em pecado me concebeu minha mãe.” (Salmo 51:5).

Diante da cura de um cego e mudo (Mateus 12:22), enquanto a multidão indagava se Jesus seria o Filho de Davi, os fariseus atribuíam o milagre a Belzebu. Jesus então os repreende, mostrando que o homem fala daquilo que está no seu coração: o bom tira do bom tesouro, e o mau, do mau tesouro. Por isso conclui:

“Mas eu vos digo que de toda a palavra ociosa que os homens disserem hão de dar conta no dia do juízo. Porque por tuas palavras serás justificado, e por tuas palavras serás condenado.” (Mateus 12:36-37).

Assim como é impossível uma árvore esconder a natureza do seu fruto, também é impossível a boca do homem ocultar a realidade do seu coração.

“Pois do que há em abundância no coração, disso fala a boca.” (Mateus 12:34).

Outro aspecto importante a ser analisado na parábola dos talentos é se Jesus, ao contá-la, estava de fato falando abertamente aos discípulos, mesmo utilizando a forma parabólica, ou se ainda fazia uso de enigmas, como na parábola do semeador.

Na parábola do semeador, dirigida à multidão, Jesus utilizou linguagem enigmática, cumprindo a profecia de Isaías: “Ouvindo, ouvireis, mas não compreendereis; e, vendo, vereis, mas não percebereis” (Mateus 13:14). Isso porque não lhes era dado conhecer os mistérios do Reino dos céus, razão pela qual Jesus lhes falava por parábolas. O propósito era que apenas os que “têm” — ou seja, os que recebem a palavra com entendimento espiritual — pudessem frutificar. Por isso, Jesus declarou:

“Àquele que tem, se dará, e terá em abundância; mas àquele que não tem, até aquilo que tem lhe será tirado” (Mateus 13:12).

Essa mesma expressão é repetida por Jesus na parábola dos talentos, conforme registrada por Lucas: “Pois eu vos digo que a qualquer que tiver, ser-lhe-á dado; mas ao que não tiver, até o que tem lhe será tirado” (Lucas 19:26). No entanto, diferentemente da multidão que ouvia sem entender, os discípulos foram destinatários da revelação dos mistérios do Reino (Mateus 13:11). Portanto, é razoável concluir que, ao contar a parábola dos talentos, Jesus não falava mais por enigmas, mas usava a forma parabólica como reforço ilustrativo de uma verdade já anteriormente exposta de maneira direta: a necessidade de vigilância e fidelidade diante da iminente vinda do Senhor.

O objetivo e o significado da Parábola dos Talentos

A Parábola dos Talentos foi contada para sublinhar a necessidade de vigilância do povo de Israel quanto à vinda do Messias prometido por Deus. Embora Israel tivesse como esperança a vinda do descendente prometido a Abraão, não estavam vigilantes. Assim, o objetivo da parábola é instruir os filhos de Israel sobre a iminente vinda do Messias, e seu significado central encontra-se nestes três versículos:

“Vigiai, pois, porque não sabeis a que hora há de vir o vosso Senhor. Mas considerai isto: se o pai de família soubesse a que vigília da noite havia de vir o ladrão, vigiaria e não deixaria minar a sua casa. Por isso, estai vós apercebidos também; porque o Filho do homem há de vir à hora em que não penseis.” (Mateus 24:42-44).

É significativo que apenas o Evangelho de Mateus registre as três parábolas — dos dois servos, das dez virgens e dos talentos — enquanto Marcos e Lucas, ao relatar o mesmo sermão profético, apenas destacam a necessidade de vigilância diante da vinda do Messias em momento incerto. A ausência dessas parábolas nos relatos de Marcos e Lucas indica que a essência do sermão não está nos elementos simbólicos das parábolas, mas na mensagem principal que elas reiteram: “vigiai, porque não sabeis o dia nem a hora”.

Enquanto Mateus utiliza três parábolas para ilustrar a vigilância, Marcos resume esse ensino com uma parábola concisa:

“Olhai, vigiai e orai; porque não sabeis quando chegará o tempo. É como se um homem, partindo para fora da terra, deixasse a sua casa, e desse autoridade aos seus servos, e a cada um a sua obra, e mandasse ao porteiro que vigiasse. Vigiai, pois, porque não sabeis quando virá o senhor da casa; se à tarde, se à meia-noite, se ao cantar do galo, se pela manhã, para que, vindo de improviso, não vos ache dormindo. E as coisas que vos digo, digo-as a todos: Vigiai.” (Marcos 13:33-37).

Muitos intérpretes atribuem significados alegóricos a elementos das parábolas de Mateus — como talentos, óleo, lamparinas, virgens, noiva, fogo, meia-noite —, adotando o mesmo padrão de interpretação aplicado a outras passagens, como a capa do cego à beira do caminho, a pedra no túmulo de Lázaro ou os pães e peixes.

Entretanto, são poucas as parábolas em que Jesus atribui significados aos elementos que a compõem — como a do semeador (Mateus 13:18-23) ou a do joio (Mateus 13:36-43). Isso ocorre porque, ao contar essas parábolas à multidão, Jesus reservava a explicação dos símbolos para os discípulos, em particular, esclarecendo-lhes o sentido espiritual de forma direta e inequívoca.

Por outro lado, quando não há explicação posterior, como é o caso da parábola dos talentos, contada diretamente aos discípulos, isso indica que o foco não está nos detalhes narrativos, mas na mensagem principal que já havia sido exposta de modo claro: a necessidade de vigilância, fidelidade e prontidão diante da iminente vinda do Senhor.

Portanto, a parábola dos talentos não deve ser interpretada como um conjunto de códigos simbólicos a serem decifrados, mas como uma ilustração que reforça verdades já reveladas por Jesus em seu ensino direto aos discípulos. A forma parabólica, nesse caso, é um recurso pedagógico para fixar e ilustrar a doutrina da vigilância e da responsabilidade que cada um tem diante da revelacão recebida.

As três parábolas registradas por Mateus — a dos dois servos (Mateus 24:45-51), a das dez virgens (Mateus 25:1-13) e a dos talentos (Mateus 25:14-30) — resumem-se, em essência, à exortação contida na parábola breve registrada por Marcos: a necessidade de vigilância constante, uma vez que o Senhor retornará em hora incerta (Marcos 13:34-37), e na advertência expressa por Lucas:

“E olhai por vós, não aconteça que os vossos corações se carreguem de glutonaria, de embriaguez, e dos cuidados da vida, e venha sobre vós de improviso aquele dia. Porque virá como um laço sobre todos os que habitam na face de toda a terra. Vigiai, pois, em todo o tempo, orando…” (Lucas 21:34-36).

A exortação registrada por Lucas acerca da necessidade de vigilância é a mesma de Mateus e Marcos, apesar dos elementos que, à primeira vista, possam sugerir uma instrução de cunho moralizante. Ao destacar a necessidade de vigilância sem que “os corações se carreguem de glutonaria, de embriaguez, e dos cuidados da vida”, o alerta traz elementos que remetem à normalidade que viviam as pessoas na época de Noé e Ló (Mateus 24:37-39; Lucas 17:26-27).

Observe que o que dá a tônica do objetivo e significado da Parábola dos Talentos é a conclusão da Parábola das Dez Virgens:

“Vigiai, pois, porque não sabeis o dia nem a hora em que o Filho do homem há de vir. Porque isto é também como um homem que, partindo para fora da terra, chamou os seus servos, e entregou-lhes os seus bens.” (Mateus 25:13-14).

A necessidade de vigilância por não saber o dia ou a hora da volta do Filho do homem é o que leva Jesus a contar a parábola. Atribuir significados aos elementos da parábola que fujam do escopo da vigilância — por ser incerto o momento da vinda de Cristo, inclusive sendo de conhecimento que Jesus, aos discípulos, falava abertamente — resultará em equívocos hermenêuticos.

Prejuízo semelhante ocorre quando se desloca o objetivo da parábola, que é um alerta ao povo do Messias que aguardam a sua vinda para estabelecer o seu Reino terreno, ampliando o público-alvo como se fosse instrução para a igreja de Cristo. Leituras que digam que a parábola exemplifica como é servir com amor e o que é servir movido pelo medo; ou que os cristãos devem trabalhar com diligência e responsabilidade, investindo bem a vida e os dons que Deus nos deu; ou que os talentos são recursos como dons, aptidões, bens materiais ou conhecimentos, não refletem o significado dos elementos que compõem a parábola.

A parábola dos talentos é instrução específica para a geração de judeus que verão a vinda do Messias

A parábola dos talentos possui um cunho escatológico e deve ser compreendida como uma instrução específica dirigida à geração de judeus que presenciarão a vinda de Jesus em glória para reinar sobre o trono de Davi, seu pai segundo a carne, e herdar as nações da parte de seu Pai celestial, regendo-as com vara de ferro.

Essa parábola ilustra a responsabilidade dos servos em relação à instrução de Cristo, pois, após os eventos escatológicos anunciados no sermão profético, o Filho do Homem se assentará no trono da sua glória para julgar as nações:

“E quando o Filho do homem vier em sua glória, e todos os santos anjos com ele, então se assentará no trono da sua glória; E todas as nações serão reunidas diante dele, e apartará uns dos outros, como o pastor aparta dos bodes as ovelhas;” (Mateus 25:31-32).

É certo que o Filho do Homem virá para tomar posse da sua herança, quer os servos estejam vigilantes ou não, quer os seus concidadãos o aceitem ou o rejeitem. Isso porque o Pai lhe prometeu todas as coisas:

“Eu, porém, ungi o meu Rei sobre o meu santo monte de Sião. Proclamarei o decreto: o SENHOR me disse: Tu és meu Filho, eu hoje te gerei. Pede-me, e eu te darei os gentios por herança, e os fins da terra por tua possessão.” (Salmo 2:6-8).

As advertências de Jesus no sermão profético se dirigem específica e prioritariamente à nação de Israel. Isso se evidencia nas instruções particulares que fazem referência a elementos geográficos e históricos ligados ao povo judeu:

“Quando, pois, virdes que a abominação da desolação, de que falou o profeta Daniel, está no lugar santo… então, os que estiverem na Judeia, fujam para os montes.” (Mateus 24:15-16).

Tais instruções são inequivocamente destinadas àqueles que estiverem em território judaico, e não têm aplicação direta à Igreja, espalhada entre as nações. O reconhecimento da “abominação da desolação” é um sinal para os judeus quanto à proximidade da vinda do Messias, como o próprio Jesus afirma:

“Eis que eu vo-lo tenho predito.” (Mateus 24:25).

Assim, a parábola dos talentos deve ser lida dentro desse horizonte profético, como um chamado à vigilância e à fidelidade dirigido aos judeus que viverão os dias que antecedem o retorno do Messias em glória.

O tempo que antecederá a vinda de Cristo será marcado por um cenário de intensa perseguição, identificado por Jesus como a grande tribulação. Nesse contexto, os judeus que estiverem na Judeia deverão fugir imediatamente, sem tempo para retornar à casa ou preparar bagagens. A urgência é tamanha que Jesus adverte quanto às dificuldades particulares das mulheres grávidas e das que amamentarem, dada a vulnerabilidade imposta por suas condições. Porém, como o momento exato da perseguição é desconhecido, os filhos de Israel devem orar para que a fuga não ocorra no inverno nem em dia de sábado (Mateus 24:17-21).

Essa menção específica ao sábado é significativa. Aqueles que priorizarem os preceitos religiosos judaicos em detrimento da instrução direta de Jesus para fugir colocarão em risco suas próprias vidas. Isso reforça o princípio enunciado por Jesus:

“Qualquer que procurar salvar a sua vida, perdê-la-á, e qualquer que a perder, salvá-la-á.” (Lucas 17:33).

Tal advertência está em consonância com outra declaração de Jesus aos seus discípulos:

“Se alguém quiser vir após mim, renuncie-se a si mesmo, tome sobre si a sua cruz, e siga-me.” (Mateus 16:24).

Ainda que essa instrução não tenha, à primeira vista, caráter escatológico, ela culmina com a promessa do retorno glorioso do Filho do Homem:

“Porque o Filho do homem virá na glória de seu Pai, com os seus anjos; e então dará a cada um segundo as suas obras.” (Mateus 16:27).

O período anterior à vinda de Cristo será um tempo de angústia sem precedentes para Israel. Jerusalém será cercada por todas as nações: a cidade será tomada, casas saqueadas, mulheres violentadas; metade da população será levada cativa, e a outra metade será preservada (Zacarias 14:2). Essa preservação corresponde àqueles que atenderem ao aviso de Jesus e fugirem para os montes (cf. Mateus 24:40-41).

Nesse mesmo contexto, Zacarias prediz que dois terços da terra serão extirpados, restando apenas um terço (Zacarias 13:8-9). Essa divisão também é aludida por Jesus ao afirmar que duas pessoas estarão no campo, uma será levada e outra deixada; duas moendo juntas, uma será tomada e a outra não (Mateus 24:40-41).

A “abominação do assolamento”, anunciada pelo profeta Daniel e retomada por Jesus em seu sermão profético, é o sinal que marca o início da grande aflição — um período de tribulação sem precedentes na história de Israel (cf. Mateus 24:15-21; Marcos 13:14-19). Quando esse sinal estiver “onde não deve estar”, surgirão também rumores sobre a vinda do Cristo, com declarações dizendo que Ele está “aqui” ou “aacolá”, o que requer discernimento para não ser enganado.

Esses elementos — a profanação do lugar santo, a perseguição sem igual, e os falsos anúncios da manifestação messiânica — são os verdadeiros paralelos da parábola da figueira: tal como os ramos que se tornam tenros e começam a brotar sinalizam a chegada do verão, esses acontecimentos específicos indicam, para os judeus, a proximidade da vinda do Messias. A figueira, portanto, funciona como uma ilustração natural que aponta para uma realidade escatológica: quando os sinais profetizados começarem a se cumprir, saberão que o tempo está às portas.

É nesse contexto que se insere a ordem enfática de Jesus:

“Então, os que estiverem na Judeia fujam para os montes. O que estiver sobre o telhado não desça para tirar coisa alguma de sua casa; e o que estiver no campo não volte atrás para buscar sua capa. Mas ai das que estiverem grávidas ou amamentando naqueles dias! Orai para que a vossa fuga não suceda no inverno” (Marcos 13:14–18).

Essa advertência é dirigida especificamente aos judeus que estiverem na Judeia durante o período de angústia sem paralelo, e está diretamente vinculada à função escatológica da parábola da figueira. Jesus não estava estabelecendo sinais para a Igreja, mas oferecendo instruções precisas ao povo de Israel, a fim de que, diante dos eventos profetizados, reconhecessem a iminência da vinda do Messias e respondessem com obediência à orientação divina.

Embora as parábolas dos talentos, dos dois servos e das dez virgens tenham sido dirigidas aos discípulos, elas não se destinam exclusivamente à Igreja, mas compõem um alerta profético para a geração de judeus que precederá a manifestação gloriosa do Filho do Homem. Essas parábolas enfatizam a vigilância constante, a prontidão e a fidelidade diante da revelação recebida, de modo que os judeus fiéis possam escapar com vida de todos os horrores da grande tribulação e, assim, estejam preparados para comparecer diante do Filho do Homem em sua vinda, conforme advertido por Jesus:

“Vigiai, pois, em todo o tempo, orando para que sejais havidos por dignos de escapar de todas estas coisas que hão de acontecer e de estar em pé diante do Filho do homem.” (Lucas 21:36).

Passar vivo pelo período da grande tribulação é, na essência, o objetivo central da vigilância exigida por Jesus aos judeus, especialmente diante da ordem profética: “fujam para os montes” (cf. Marcos 13:14). Essa fuga não é apenas um ato de prudência estratégica, mas uma obediência escatológica, pois será no monte das Oliveiras que os judeus sobreviventes estarão de pé diante do Messias em sua vinda gloriosa.

A manifestação do Filho do Homem é o clímax escatológico que dá sentido às três parábolas finais do sermão profético de Mateus. Por isso, Mateus encerra a sequência de parábolas com a cena do trono da sua glória (Mateus 25:31), retratando o momento em que Cristo se assenta para julgar as nações. De forma correspondente, Marcos e Lucas encerram seus registros com uma exortação direta à vigilância, reforçando o chamado à prontidão diante da iminente revelação do Messias.

Na parábola dos talentos, os dois servos fiéis representam os judeus que, em meio à grande tribulação, guardam seus corações de se deixarem absorver por “glutonaria, embriaguez e pelos cuidados da vida”, para que aquele dia não lhes sobrevenha de improviso (Lucas 21:34). Esses judeus fiéis, atentos ao sinal do cerco de Jerusalém, reconhecem que se aproxima o tempo da desolação e obedecem à ordem de fugir, conforme registrado:

“Quando, pois, virdes Jerusalém cercada de exércitos, sabei então que é chegada a sua desolação. Então, os que estiverem na Judeia, fujam para os montes…” (Lucas 21:20-21).

As condutas mencionadas por Jesus — “glutonaria”, “embriaguez” e “cuidados da vida” (Lucas 21:34) — não devem ser interpretadas meramente sob um viés moralizante ou comportamentalista. Antes, remetem diretamente ao padrão de vida despreocupado e ordinário dos dias de Noé e de Ló, conforme o próprio Jesus declara (Lucas 17:26–30). Trata-se de uma crítica à indiferença espiritual, à rotina absorvente e à falta de discernimento quanto à iminência do juízo.

Nos dias de Noé, comiam, bebiam, casavam-se e davam-se em casamento até o dia em que veio o dilúvio; nos dias de Ló, compravam, vendiam, plantavam e edificavam, até que choveu fogo e enxofre do céu. Esses detalhes não denunciam práticas imorais em si, mas revelam uma geração presa à normalidade da vida e alheia aos sinais de Deus.

Jesus, portanto, adverte que viver como se nada estivesse prestes a acontecer — fixando o coração nas demandas do presente século — é a verdadeira falha escatológica. A vigilância que Ele requer não é baseada em ascetismo ou legalismo, mas na sensibilidade espiritual e na prontidão para discernir o tempo da sua vinda.

Por outro lado, o servo negligente da parábola é aquele que, embora tenha consciência de que o seu Senhor voltará, não vigia nem “investe” a palavra que lhe foi confiada — a palavra de alerta e fuga. Seu coração permanece preso às coisas desta vida, e ele ignora a gravidade do tempo profético. Esses serão apanhados nos juízos que sobrevirão à terra e não subsistirão até a vinda do Filho do Homem.

Os servos dos cinco e dois talentos são, portanto, os que reconhecem os sinais e obedecem. Sabem que, ao verem Jerusalém cercada, é chegada a hora de abandonar a cidade, de não olhar para trás e fugir para os montes. Aqueles que assim fizerem, perseverando até o fim, estarão de pé naquele dia diante do Messias (cf. Lucas 21:36).

A destruição do templo de Herodes não é o cumprimento do sermão profético

Alguns intérpretes sustentam que a profecia de Jesus sobre o cerco de Jerusalém já se cumpriu no ano 70 d.C., quando o general Tito, comandante das forças romanas, cercou a cidade, impôs severo aperto e destruiu o templo de Herodes. De fato, a profecia sobre a destruição do templo (cf. Mateus 24:2) encontra seu cumprimento nesse evento. No entanto, as demais declarações de Jesus — especialmente aquelas que envolvem grávidas e lactantes, o grande aperto sobre a terra, a manifestação da ira divina contra Israel, a queda de muitos ao fio da espada, o cativeiro dos sobreviventes e o pisoteamento de Jerusalém pelos gentios — ainda aguardam cumprimento.

Segundo registros da patrística e da historiografia eclesiástica, cristãos judeus de Jerusalém teriam fugido para Pela, uma cidade na região da Peréia (atual Jordânia), antes do cerco romano. Eusébio de Cesareia (c. 260–340 d.C.), considerado o pai da história da Igreja, menciona essa fuga em sua obra História Eclesiástica (Livro III, cap. 5, §3):

“Mas os membros da igreja em Jerusalém foram avisados por uma revelação dada a homens aprovados ali antes da guerra para deixarem a cidade e irem habitar em uma cidade da Peréia chamada Pela; e ali os que creram em Cristo foram à época afastados de Jerusalém.”

Esse episódio tem sido frequentemente citado como evidência da relação entre a profecia de Jesus e um cumprimento parcial nos eventos do século I, além de simbolizar a separação da Igreja primitiva em relação ao destino político e religioso da nação de Israel. No entanto, ainda que tal fuga tenha ocorrido — embora sem confirmação direta nas Escrituras e com base apenas em um testemunho posterior —, o grau de sofrimento registrado no ano 70 d.C. não se equipara ao quadro escatológico descrito por Jesus em Mateus 24 e 25.

A razão é clara: a profecia de Jesus vai além da destruição do templo e envolve eventos escatológicos ainda não realizados, tais como:

Uma fuga coletiva e imediata para os montes (Mateus 24:16);

Um sofrimento sem precedentes, chamado de “grande tribulação” (Mateus 24:21);

A confluência de diversas nações contra Jerusalém;

Sinais cósmicos (Mateus 24:29);

A manifestação visível do Filho do Homem com poder e glória (Mateus 24:30).

Se os eventos de 70 d.C. correspondessem à grande tribulação escatológica, a fuga para os montes mencionada por Jesus culminaria em um cenário profético como o descrito em Zacarias 14:5:

“E fugireis pelo vale dos meus montes, pois o vale dos montes chegará até Azel; e fugireis assim como fugistes de diante do terremoto nos dias de Uzias, rei de Judá. Então virá o SENHOR, meu Deus, e todos os santos contigo.”

Portanto, à luz das Escrituras, a profecia escatológica de Mateus 24–25 não se esgota nos eventos do ano 70 d.C. O cerco de Tito foi, sem dúvida, um juízo histórico sobre Jerusalém, mas não o clímax escatológico predito por Jesus. A plenitude da profecia aguarda ainda o tempo estabelecido pelo Pai, quando todas as nações se congregarão contra Jerusalém, a cidade será dividida, o Messias descerá sobre o monte das Oliveiras, e todo olho o verá (cf. Zacarias 14; Apocalipse 1:7).

Os judeus que forem diligentes como o servo fiel, as cinco virgens prudentes e os dois servos que multiplicaram os talentos, naquele dia se depararão com o seguinte evento escatológico:

“E naquele dia estarão os seus pés sobre o monte das Oliveiras, que está defronte de Jerusalém para o oriente; e o monte das Oliveiras será fendido pelo meio, para o oriente e para o ocidente, e haverá um vale muito grande; e metade do monte se apartará para o norte, e a outra metade dele para o sul.” (Zacarias 14:4).

Esse acontecimento dá sentido pleno à advertência registrada por Lucas, quando destaca a necessidade de vigilância e oração para que os fiéis sejam encontrados de pé diante do Filho do Homem:

“Vigiai, pois, em todo o tempo, orando, para que sejais havidos por dignos de evitar todas estas coisas que hão de acontecer, e de estar em pé diante do Filho do homem.” (Lucas 21:36).

Marcos e Lucas encerram o sermão profético com exortações à vigilância constante, como condição para escapar aos juízos iminentes. Já Mateus, além de reforçar essa vigilância por meio das três parábolas (os dois servos, as dez virgens e os talentos), prossegue narrando o momento culminante da vinda gloriosa do Messias, quando Ele se assenta em seu trono:

“E quando o Filho do homem vier em sua glória, e todos os santos anjos com ele, então se assentará no trono da sua glória.” (Mateus 25:31).

Esse evento cumpre integralmente a profecia de Zacarias:

“E o SENHOR será rei sobre toda a terra; naquele dia um será o SENHOR, e um será o seu nome.” (Zacarias 14:9).

A entronização do Filho do Homem é a resposta escatológica à vigilância dos servos fiéis. Permanecer de pé diante dEle, no monte das Oliveiras fendido, é o destino glorioso dos que atentaram para os sinais, obedeceram à ordem de fuga e não se deixaram absorver pelos cuidados desta vida (cf. Lucas 21:34–35). Assim, a vigilância não é apenas uma disposição interna de prontidão, mas uma resposta concreta à revelação profética, que conduz à salvação daqueles que, mesmo no tempo da tribulação, atentam em obedecer a ordem de Cristo.

A interpretação da Parábola da Figueira

A parábola da figueira é registrada nos três evangelhos sinóticos, com formulações muito semelhantes:

“E disse-lhes uma parábola: Olhai para a figueira, e para todas as árvores; Quando já têm rebentado, vós sabeis por vós mesmos, vendo-as, que perto está já o verão. Assim também vós, quando virdes acontecer estas coisas, sabei que o reino de Deus está perto.” (Lucas 21:29-31);

“Aprendei, pois, esta parábola da figueira: Quando já os seus ramos se tornam tenros e brotam folhas, sabeis que está próximo o verão. Igualmente, quando virdes todas estas coisas, sabei que ele está próximo, às portas.” (Mateus 24:32-33);

“Aprendei, pois, a parábola da figueira: Quando já o seu ramo se torna tenro, e brota folhas, bem sabeis que já está próximo o verão. Assim também vós, quando virdes sucederem estas coisas, sabei que já está perto, às portas.” (Marcos 13:28-29).

Diferentemente de outras parábolas que possuem vários elementos na sua composição, a parábola da figueira faz referência às transformações que as estações do ano causam à fisiologia de uma figueira, ou como registrou Lucas, à fisiologia de todas as árvores.

O objetivo da parábola da figueira é alertar os filhos de Israel acerca da necessidade de reconhecerem quando o fim dos tempos estiver próximo. Da mesma forma que as pessoas, ao olharem para a figueira e verificarem que os seus ramos já estavam tenros e que as folhas brotavam, concluíam que o verão estava próximo, de igual modo, quando vissem todas as coisas que Jesus anunciou acontecerem, deveriam compreender que o reino do Messias estava perto de se manifestar.

Um dos erros mais recorrentes entre os intérpretes é presumir que a figueira representa a nação de Israel. Tal interpretação incorre em dois problemas: primeiro, não há qualquer identificação direta na parábola que diga que a figueira é Israel; segundo, se a figueira é Israel, seria necessário explicar o significado a ser atribuído às “outras árvores”, como mencionadas em Lucas 21:29.

A ideia de que a figueira nessa parábola se refere a Israel se deve à importação de significados de outra parábola em que Israel é representado como uma figueira (Lucas 13:6). Como destacado anteriormente, atribuir significado de uma parábola para outra é um erro hermenêutico recorrente, que deve ser evitado.

Vale enfatizar: a figueira na parábola não representa Israel, e nem Israel foi posto por sinal para a Igreja. Os membros do corpo de Cristo não se guiam por sinais (vista), mas por fé (2 Coríntios 5:7).

Não há necessidade de atribuir sentido alegórico à figueira, pois o próprio ensino da parábola está atrelado ao seu aspecto natural e observável: quando se aproxima o verão, as árvores florescem (Mateus 24:32). Essa evidência visível é usada como ilustração do mesmo princípio escatológico: quando virdes acontecer estas coisas, sabei que ele está às portas.

A parábola da figueira, tal como outras ilustrações utilizadas por Jesus, visa apenas destacar a necessidade de discernimento espiritual diante dos sinais evidentes.

“E dizia também à multidão: Quando vedes a nuvem que vem do ocidente, logo dizeis: Lá vem chuva, e assim sucede. E, quando assopra o sul, dizeis: Haverá calma; e assim sucede. Hipócritas, sabeis discernir a face da terra e do céu; como não sabeis então discernir este tempo?” (Lucas 12:54-56).

Assim como não se deve atribuir significados espirituais específicos à nuvem que vem do ocidente ou ao vento que sopra do sul, também não é correto alegorizar os elementos naturais da parábola da figueira.

Nesse texto, Jesus repreende a multidão por saber interpretar os sinais climáticos, mas não discernir o tempo da visitação divina. De modo análogo, na parábola da figueira, o ensino central é claro: assim como os brotos das árvores indicam a chegada do verão, os sinais proféticos que Jesus anunciou indicam a proximidade de sua vinda. Qualquer tentativa de transformar esses elementos naturais — como figueira, nuvem ou vento — em símbolos proféticos desvinculados do contexto imediato compromete a intenção original do ensino. Trata-se de uma exortação à vigilância e ao discernimento dos tempos, e não de um código a ser decifrado alegoricamente.

Em suma, a função didática e escatológica da parábola da figueira consiste em instruir quanto à necessidade de vigilância contínua diante da iminência da vinda do Filho do homem. Assim como os sinais sazonais indicam a proximidade do verão, os sinais anunciados por Jesus assinalam a proximidade do Reino. A lição central é que a manifestação do Reino será súbita, e, por isso, requer prontidão e discernimento. Essa mesma ênfase na urgência e na vigilância caracteriza as três parábolas registradas em Mateus — a dos dois servos, a das dez virgens e a dos talentos —, as quais, em conjunto, reiteram o mesmo princípio escatológico: o Senhor virá em hora incerta, e bem-aventurado será aquele que for encontrado fiel e atento.

A Parábola do Servo Fiel e Prudente e do Servo Mau

No sermão profético, Jesus adverte insistentemente aos seus discípulos sobre a natureza repentina, visível e imprevisível da vinda do Filho do Homem. A volta do Messias não será secreta nem restrita a um local, mas ocorrerá como um relâmpago que atravessa o céu de um extremo a outro (Mateus 24:27). Por isso, Jesus alerta: não deem crédito àqueles que disserem que o Cristo está aqui ou ali, pois surgiriam muitos falsos cristos e falsos profetas, que realizariam sinais e prodígios com poder de enganar, se possível, até os eleitos (Mateus 24:23-26).

Jesus reforça que ninguém sabe o dia nem a hora de sua vinda, nem os anjos do céu, mas somente o Pai (Mateus 24:36). Assim como nos dias de Noé, quando os homens comiam, bebiam e casavam-se até que veio o dilúvio de surpresa, assim também será a vinda do Filho do Homem (Mateus 24:37-39).

Diante dessa realidade, a ordem de Jesus é inequívoca: “Vigiai”. A imprevisibilidade de sua vinda exige vigilância constante. Tal como o pai de família que, se soubesse a hora em que o ladrão viria, teria vigiado, assim também os filhos de Israel devem estar preparados, pois o Filho do Homem virá quando menos se espera (Mateus 24:42-44).

Todas essas advertências convergem para uma mesma mensagem central: a volta de Cristo será pública, repentina e ocorrerá em hora desconhecida, o que exige prontidão espiritual e constante discernimento.

As três parábolas que se seguem ao sermão profético de Jesus em Mateus 24 e 25 — a do Servo Fiel e Prudente, a das Dez Virgens e a dos Talentos — reiteram os princípios fundamentais previamente anunciados:

A vinda do Senhor será repentina;

A hora será desconhecida;

Haverá distinção entre fiéis e infiéis;

Cada um será julgado conforme for encontrado no momento da vinda.

“Quem é, pois, o servo fiel e prudente, que o seu senhor constituiu sobre a sua casa, para dar o sustento a seu tempo? Bem-aventurado aquele servo que o seu senhor, quando vier, achar servindo assim. Em verdade vos digo que o porá sobre todos os seus bens. Mas se aquele mau servo disser no seu coração: O meu senhor tarde virá; E começar a espancar os seus conservos, e a comer e a beber com os ébrios, virá o senhor daquele servo num dia em que o não espera, e à hora em que ele não sabe, e separá-lo-á, e destinará a sua parte com os hipócritas; ali haverá pranto e ranger de dentes.” (Mateus 24:45-51).

No caso específico da parábola do Servo Fiel e Prudente, os elementos escatológicos previamente apresentados por Jesus se revelam de forma clara e estruturada:

O servo fiel é aquele que, mesmo sem saber o momento da volta de seu Senhor, permanece vigilante, prudente e obediente, servindo com diligência no tempo presente (Mateus 24:45-46).

Esse servo será recompensado com autoridade no Reino vindouro, sendo posto sobre todos os bens do seu Senhor (Mateus 24:47).

Em contraste, o servo mau é aquele que, presumindo no coração que o Senhor tarda em vir, entrega-se a um comportamento desregrado e violento, como se o Senhor jamais fosse retornar (Mateus 24:48-49).

A resposta escatológica é severa: o Senhor virá em dia e hora desconhecidos, surpreenderá o servo infiel, separando-o como hipócrita e destinando-o à condenação, representada pelo pranto e ranger de dentes (Mateus 24:50-51).

Lucas também registra essa parábola em contexto semelhante (Lucas 12:42-48), quando Jesus falava diretamente aos seus discípulos, mas à vista da multidão. A intervenção de Pedro (Lucas 12:41) demonstra que o ensinamento tinha aplicação ampla, não apenas aos discípulos, mas também à geração de israelitas que, mesmo diante dos sinais da visitação divina em carne, não reconheceram o Messias (Lucas 12:56).

Em Mateus, por sua vez, a parábola assume uma dimensão escatológica intensificada, direcionada à geração dos filhos de Israel que viverá os dias que antecedem a manifestação gloriosa do Filho do Homem. Assim como o relâmpago que risca o céu de um extremo ao outro (Mateus 24:27) e como o ladrão que chega de modo inesperado (Mateus 24:43-44), a vinda do Senhor será repentina e notória, e essa parábola reforça que a vigilância permanente e a atenção aos sinais serão o critério pelo qual o Messias julgará os servos.

Essa mesma lógica escatológica será retomada com ainda mais densidade nas parábolas seguintes: as Dez Virgens (Mateus 25:1-13) e os Talentos (Mateus 25:14-30), compondo uma unidade didática voltada a Israel, em que a vigilância, a prontidão e a obediência à revelação profética de Cristo se destacam como condições imprescindíveis diante da iminente vinda do Rei.

A parábola das Dez Virgens

A parábola das Dez Virgens (Mateus 25:1-13) insere-se diretamente na sequência escatológica do sermão profético de Jesus (Mateus 24–25), cujo tema central é a imprevisibilidade da vinda do Filho do Homem e a consequente necessidade de vigilância e prontidão. Assim como nas parábolas do Servo Fiel e Prudente e dos Talentos, esta parábola reforça quatro temas centrais:

A Vinda do Esposo (Messias) é Certa, mas Tardia e Inesperada

A parábola se inicia com a expressão “Então”, conectando-a diretamente às advertências anteriores sobre a vinda do Senhor (Mateus 24:42–51). O esposo, figura do Messias, tarda a chegar, e por isso todas adormecem (v. 5). No entanto, o sono não é reprovado em si, pois tanto as prudentes quanto as néscias dormem. A reprovação recai sobre a falta de preparação quando finalmente se ouve o clamor anunciando sua chegada.

A Vigilância Precavida é o Requisito — Não Basta Estar Presente

As dez virgens representam um grupo que aguarda o esposo, demonstrando uma expectativa comum quanto à sua vinda. No entanto, apenas cinco são chamadas prudentes (gr. phronimoi), pois levaram azeite de reserva juntamente com suas lâmpadas (v. 4).

As néscias (gr. morai), embora igualmente levassem lâmpadas, não providenciaram azeite extra. No momento decisivo — à meia-noite, quando ressoa o clamor (v. 6) — só as prudentes estavam efetivamente preparadas. As demais, ao tentarem suprir sua falta no último instante, são impedidas de entrar e excluídas da celebração (v. 10).

Assim, a parábola ressalta que a vigilância exigida por Jesus é mais do que uma expectativa passiva. Ela requer preparação concreta e antecipada, fidelidade no tempo de espera e prontidão para responder ao chamado no momento em que este ocorrer. O azeite, nesse sentido, simboliza a disposição espiritual ativa, a obediência e a perseverança diante da tardança aparente do Messias.

A lição final é contundente: “Vigiai, pois, porque não sabeis o dia nem a hora em que o Filho do homem há de vir” (Mateus 25:13).

A Porta se Fecha: a Decisão é Irrevogável

Quando o esposo chega, as virgens prudentes entram com ele para as bodas, e a porta é fechada (v. 10). As virgens néscias, embora clamem, são rejeitadas com a dura sentença: “Em verdade vos digo que não vos conheço” (v. 12).

Essa exclusão ecoa diretamente outras palavras de Jesus: “Apartai-vos de mim, vós que praticais a iniquidade. Nunca vos conheci” (Mateus 7:23). Aqui se revela o caráter escatológico e judicial da parábola: trata-se da vinda do Messias como Rei, recompensando os vigilantes e excluindo os negligentes.

A exortação final (v. 13) resume o propósito de toda a sequência: “Vigiai, pois, porque não sabeis o dia nem a hora em que o Filho do homem há de vir.”

Quem são as virgens prudentes e quem são as néscias?

As dez virgens representam, em conjunto, a totalidade da população da nação de Israel que estará em Jerusalém no período que antecederá a vinda de Cristo em poder e glória. As cinco virgens prudentes representam aqueles que, ao observarem os sinais preditos por Jesus, imediatamente abandonarão tudo e fugirão para os montes, conforme a advertência de Mateus 24:16-18.

Por outro lado, as cinco virgens néscias representam os que, apesar dos sinais e do alerta à vigilância, permanecerão na cidade, assim como os habitantes de Sodoma nos dias de Ló ou como os contemporâneos de Noé, que não perceberam a iminência do dilúvio e pereceram (cf. Mateus 24:37-39).

Percebe-se que, no tempo da vinda do Messias em glória, não haverá distinção entre os filhos de Israel com base na religião ou na moralidade. Todos estarão em Israel, envolvidos com as atividades cotidianas e nutrindo, em alguma medida, a expectativa pelo reinado messiânico. No entanto, a diferença decisiva entre os que serão considerados prudentes e os que serão tidos por loucos residirá em um único critério: portar ou não a lâmpada com azeite. Nesse contexto, o azeite representa o discernimento e a obediência ao alerta profético de Jesus. Assim, a prontidão diante dos sinais anunciados será o fator determinante para a participação nas bodas e para estar de pé diante do Filho do Homem em sua manifestação gloriosa.

Quando se ouve o clamor — “Aí vem o esposo, saí-lhe ao encontro” —, o esposo não vem até as virgens: são elas que devem sair ao seu encontro. As prudentes, ao escutarem esse chamado, correspondem com obediência à instrução:

“Então, os que estiverem na Judéia, fujam para os montes… não voltem atrás para buscar coisa alguma” (Mateus 24:16-18).

As néscias, ao saírem para buscar azeite, ilustram os que serão pegos de surpresa, como os que foram deixados no campo e no moinho (cf. Mateus 24:40-41). Representam aqueles que, embora pertencessem à mesma geração e compartilhassem da expectativa messiânica, não deram ouvidos às advertências e não se prepararam.

Nesse ponto, a parábola das Dez Virgens converge com a dos dois no campo e das duas no moinho, reforçando a divisão entre os que serão levados e os que serão deixados. O critério não é mera associação com o povo de Israel, mas a vigilância ativa diante dos sinais escatológicos.

O versículo 13 funciona como ponte para a parábola seguinte, a dos talentos: “Vigiai, pois, porque não sabeis o dia nem a hora em que o Filho do homem há de vir.” Com isso, Jesus encerra a parábola das Dez Virgens reiterando a urgência da vigilância e prepara o leitor para uma nova ilustração da responsabilidade dos servos diante da demora do Senhor.

Perceba que, por volta da meia-noite, todas as virgens ouvirão um clamor: “Aí vem o esposo, saí-lhe ao encontro.” O noivo não virá até elas, mas será necessário que elas saiam ao seu encontro.

A narrativa destaca uma interação entre as prudentes e as néscias, mas, no momento em que o esposo chega, apenas as prudentes estão prontas para recebê-lo. Elas, ao ouvirem o clamor da meia-noite, são aquelas que obedeceram prontamente à ordem profética:

“Então, os que estiverem na Judéia, fujam para os montes; e quem estiver sobre o telhado não desça para tirar alguma coisa de sua casa; e quem estiver no campo não volte atrás para buscar as suas vestes.” (Mateus 24:16-18).

As néscias, por outro lado, ao saírem em busca de azeite para suas lâmpadas, representam os filhos de Israel que, naquele tempo, agirão com indiferença espiritual, como os que viveram nos dias de Noé: não discerniram a iminência do dilúvio e pereceram. Assim será também a vinda do Filho do Homem (Mateus 24:39).

As Dez Virgens ilustram as duas pessoas no campo e no moinho: as néscias correspondem às que serão deixadas, enquanto as prudentes representam as que serão levadas (Mateus 24:40-41).

Nesse ponto, Jesus reitera o chamado à vigilância, encerrando a parábola com uma exortação solene que prepara o leitor para a próxima parábola, a dos talentos:

“Vigiai, pois, porque não sabeis o dia nem a hora em que o Filho do Homem há de vir.” (Mateus 25:13).

Igreja e Israel: tratamentos distintos na escatologia bíblica

A parábola dos talentos, assim como as parábolas das dez virgens e do servo fiel e prudente, foi proferida por Jesus em um contexto escatológico e tem como destinatário imediato o povo de Israel, e não a Igreja. O cenário desolador descrito no sermão profético (Mateus 24–25) não guarda relação com o arrebatamento da Igreja, mas refere-se a um tempo de juízo e livramento diretamente ligado à nação judaica, em cumprimento às profecias do Antigo Testamento.

O sermão profético constitui um alerta solene ao povo de Israel de que a ira de Deus se manifestará por meio da investida das nações contra Jerusalém. Nesse contexto, o Messias exorta os que estiverem na Judéia a fugirem para os montes, a fim de escaparem da destruição iminente, pois somente assim evitarão o cativeiro que recairá sobre aqueles que permanecerem na cidade (Mateus 24:16-19).

Mas como podemos ter certeza de que a Igreja não passará pelo princípio das dores nem pela grande tribulação? A resposta está na comparação entre o ensino de Jesus aos judeus e a instrução apostólica de Paulo à Igreja, especialmente em 1 Tessalonicenses 5:4-10:

“Mas vós, irmãos, já não estais em trevas, para que aquele dia vos surpreenda como um ladrão. Porque todos vós sois filhos da luz e filhos do dia; nós não somos da noite nem das trevas.” (1 Tessalonicenses 5:4-5).

Segundo Paulo, a Igreja não será surpreendida pelo Dia do Senhor porque seus membros pertencem à luz, vivem em sobriedade e estão revestidos da fé, do amor e da esperança da salvação. Em contraste, as parábolas escatológicas de Mateus e Lucas refletem a expectativa escatológica de Israel, que aguardava a manifestação visível do Reino Messiânico.

Enquanto os judeus estavam preocupados com “tempos e estações” — como expressa a pergunta feita a Jesus após a ressurreição: “Restaurarás tu neste tempo o Reino a Israel?” (Atos 1:6) —, a Igreja foi claramente instruída a não especular sobre datas ou cronogramas proféticos, pois sua esperança é celestial, voltada à redenção do corpo e ao arrebatamento (Romanos 8:23).

“Não vos pertence saber os tempos ou as estações que o Pai estabeleceu pelo seu próprio poder.” (Atos 1:7).

Ademais, em 1 Tessalonicenses 5:1-3, Paulo declara que não necessitava escrever à Igreja sobre os tempos e as épocas, pois o Dia do Senhor virá como ladrão à noite — não para a Igreja, mas para aqueles que estiverem iludidos pela falsa sensação de “paz e segurança”. Este aviso diz respeito à nação de Israel, que, naquele tempo, estará firmada em alianças humanas e não no discernimento profético do Messias.

Assim, à luz do Novo Testamento, é possível perceber claramente a distinção escatológica entre a Igreja e Israel: enquanto a primeira aguarda o arrebatamento como redenção e glorificação, Israel será provado na tribulação, como parte do cumprimento das promessas e juízos profetizados desde Moisés, os profetas e os salmos.

“Paz e segurança”: a falsa estabilidade sob o domínio da besta

A declaração de “paz e segurança”, mencionada por Paulo em 1 Tessalonicenses 5:3, está diretamente associada a um momento de estabilidade política e religiosa ilusória, que precederá a destruição repentina sobre Israel e as nações. Essa falsa paz ocorrerá quando Israel estiver aliançado com os poderes do mundo, conforme descrito simbolicamente em Apocalipse 17.

“Quando disserem: Paz e segurança, então lhes sobrevirá repentina destruição, como as dores de parto àquela que está grávida; e de modo nenhum escaparão.” (1 Tessalonicenses 5:3).

A Igreja jamais declara paz e segurança, pois o próprio Jesus advertiu que no mundo os seus seguidores teriam aflições e perseguições por causa do evangelho (João 16:33; Filipenses 1:29).

Israel aliançado com o sistema da besta

Em Apocalipse 17, o apóstolo João contempla uma visão de uma mulher assentada sobre uma besta de cor escarlate, carregada de nomes de blasfêmia, com sete cabeças e dez chifres (Apocalipse 17:3). Essa representação simbólica aponta para uma aliança profana entre Israel — figurado na mulher — e um sistema político global corrompido, identificado como a besta.

Essa aliança expressa a tentativa de Israel de reassumir protagonismo e influência geopolítica nos últimos dias, não pela submissão à vontade de Deus, mas em rebelião contra ela. Ao buscar firmar-se por meio de um pacto com as potências do mundo — representadas pela besta — Israel rejeita o Reino prometido, que só será plenamente estabelecido sob o governo do Cristo, o Messias que fora recusado.

A besta sobre a qual a mulher está sentada simboliza um império mundial de domínio político-militar, sustentado por uma coligação de reis e governantes. Esses poderes se unem em torno de uma agenda de opressão e blasfêmia contra Deus, como evidenciado pelos “nomes de blasfêmia”. As sete cabeças e os dez chifres, interpretados no próprio capítulo (Apocalipse 17:9-13), remetem a reis e reinos que compõem essa estrutura global.

“As sete cabeças são sete montes sobre os quais a mulher está assentada. E são também sete reis; cinco já caíram, um existe, e o outro ainda não é vindo; e, quando vier, convém que dure pouco tempo. E a besta que era, e já não é, é ela também o oitavo, e é dos sete, e vai à perdição.” (Apocalipse 17:9-11).

Esses “sete montes” ou reis apontam para impérios históricos ligados ao destino de Israel. A besta é descrita como um oitavo rei que pertence aos sete, sugerindo uma reconfiguração política de um dos impérios antigos, com o qual Israel firmará uma aliança, julgando encontrar estabilidade e segurança. Trata-se, no entanto, de uma paz ilusória, que precederá a ruína repentina sobre os que não discernirem o tempo da visitação do verdadeiro Rei.

Os dez reis e a falsa paz

Os dez chifres da besta são identificados como dez reis que ainda não receberam reino, mas que, no tempo oportuno, receberão autoridade por uma hora com a besta:

“E os dez chifres que viste são dez reis, que ainda não receberam reino, mas receberão poder como reis por uma hora, juntamente com a besta. Estes têm o mesmo intento, e entregarão o seu poder e autoridade à besta.” (Apocalipse 17:12-13)

Esses reis, em unidade com a besta, se sujeitarão temporariamente a Israel, que está representado pela mulher adúltera assentada sobre ela (Apocalipse 17:18). Durante esse breve período, o cenário será de aparente estabilidade geopolítica e religiosa, razão pela qual Israel — e o mundo — dirão: “Há paz e segurança”.

No entanto, essa estabilidade será ilusória e breve. A própria besta e os dez reis, que num primeiro momento se submetem à influência da mulher que se prostituía com os reis da terra (Apocalipse 17:2), posteriormente a odiarão e a destruirão:

“E os dez chifres que viste na besta, esses odiarão a mulher, e a porão desolada e nua, e comerão a sua carne, e a queimarão no fogo.” (Apocalipse 17:16)

Importa lembrar que a figura da mulher adúltera como representação da nação de Israel não é uma construção exclusiva do Apocalipse nem uma inovação joanina. Essa imagem tem raízes profundas na Lei, nos Profetas e nos Salmos, onde Israel, chamado a ser a esposa fiel do Senhor, é reiteradamente descrito como mulher infiel, adúltera e prostituta quando se afasta da aliança e se une a outros deuses ou confia em alianças políticas com nações estrangeiras (cf. Êxodo 34:15-16; Jeremias 3:1-10; Ezequiel 16 e 23; Oséias 2:2; Salmos 106:39). João, ao descrever a mulher assentada sobre a besta escarlate (Apocalipse 17), retoma essa tradição profética, revelando que, nos últimos dias, Israel buscará protagonismo e segurança mediante alianças com os reis da terra, persistindo na rebelião contra o Senhor.

O juízo repentino e a revelação do verdadeiro Cristo

Esse momento de “paz e segurança” será quebrado de forma repentina e devastadora, como o início de dores de parto. É nesse contexto que virá a grande tribulação, e posteriormente, a manifestação gloriosa do Messias, conforme anunciado em Mateus 24 e Apocalipse 19.

Essa destruição repentina não atingirá a Igreja, pois, como Paulo escreveu, os que estão em Cristo não são das trevas para que “aquele dia” os surpreenda como ladrão (1 Tessalonicenses 5:4). A Igreja não estará presente nesse pacto espúrio com a besta, pois não está destinada à ira, mas à aquisição da salvação por meio de Cristo (1 Tessalonicenses 5:9).

A Igreja: não destinada à ira, mas à salvação

O apóstolo Paulo é categórico ao afirmar que os cristãos não foram destinados para a ira, mas para a aquisição da salvação por meio de nosso Senhor Jesus Cristo (1 Tessalonicenses 5:9). A mesma linguagem escatológica e exortativa perpassa suas cartas aos tessalonicenses, aos gálatas e aos efésios, onde Paulo conclama os crentes à sobriedade espiritual — termo que, no contexto paulino, representa a permanência no evangelho, longe da embriaguez religiosa do judaísmo, que ele descreve como vinho da contenda, em outros termos, “peçonha de víbora”, próprio à raça de víboras (cf. Efésios 5:18; Romanos 3:13; Deuteronômio 32:33).

Essa sobriedade se traduz em vestir-se da armadura de Deus, particularmente da couraça da fé e do amor — que simboliza a verdade do evangelho e a obediência ao evangelho, o mesmo que operar a salvação com temor e tremor (cf. Efésios 6:13; Filipenses 2:12). Paulo também enfatiza que os cristãos são filhos da luz, participantes da natureza divina (cf. Efésios 5:8-18; 2 Pedro 1:4), e, por isso, não pertencem às trevas, mas ao dia — estando, portanto, atentos, vigilantes e preparados (1 Tessalonicenses 5:5; Romanos 13:12).

Entretanto, é na epístola aos tessalonicenses que Paulo trata de forma mais explícita sobre o arrebatamento da Igreja e a ressurreição dos mortos em Cristo. Ele esclarece que os que estiverem vivos na vinda do Senhor não precederão os que dormem, mas que todos serão reunidos com o Senhor nos ares, ao som da trombeta de Deus e à voz do arcanjo (1 Tessalonicenses 4:13-18). Essa é a esperança reservada à Igreja, distinta da ira que sobrevirá ao mundo — especialmente sobre Israel — durante o tempo da tribulação.

A responsabilidade profética de Israel contrastada com a Igreja

Essas parábolas — como as das Dez Virgens, do Mordomo Fiel e a dos Talentos — não descrevem o arrebatamento da Igreja, tampouco a ressurreição dos salvos em Cristo. Também não têm relação com o julgamento final de obras aplicável a todos os homens, sejam salvos ou perdidos (Romanos 2:6). Em vez disso, essas parábolas estão inseridas no contexto escatológico de Israel, apontando para o tempo da tribulação e para o retorno visível de Cristo à terra, conforme anunciado nos evangelhos sinóticos.

A respeito da Igreja, as Escrituras são claras: os que morreram em Cristo ressuscitarão primeiro, e os que estiverem vivos serão arrebatados para encontrar o Senhor nos ares (1 Tessalonicenses 4:16-17). Após esse encontro, os salvos comparecerão ao Tribunal de Cristo, não para juízo de condenação, mas para receberem recompensa pelas obras realizadas no corpo, segundo o que cada um fez, seja bem ou mal (2 Coríntios 5:10; Romanos 14:10). Trata-se de um julgamento exclusivamente de galardão, e não de salvação, pois esta já está garantida pela fé em Cristo.

Por isso, Paulo adverte aos cristãos: não compete a ninguém julgar o servo alheio, pois todos prestaremos contas diretamente ao nosso Senhor (Romanos 14:4). Cada membro do Corpo de Cristo será avaliado individualmente quanto à sua disposição ao evangelho de boa mente após ter crido.

O apóstolo reforça esse princípio ao escrever aos coríntios, usando a imagem da construção. Ele afirma que ele e Apolo eram cooperadores de Deus, e que os cristãos são lavoura e edifício de Deus (1 Coríntios 3:9). Paulo, como apóstolo, lançou o fundamento — que é Cristo — mas reconhece que outros edificariam sobre esse fundamento, razão pela qual exorta: “Veja cada um como edifica” (1 Coríntios 3:10).

Esse edifício espiritual será provado: uns edificarão com ouro, prata e pedras preciosas (obras duráveis e valiosas); outros, com madeira, feno e palha (obras frágeis, supérfluas). No Dia determinado, a obra de cada um será provada pelo fogo, e se subsistir, receberá galardão; se se queimar, sofrerá prejuízo, embora ele mesmo será salvo, todavia como pelo fogo (1 Coríntios 3:11-15).

Essa distinção é fundamental: o Tribunal de Cristo não tem caráter condenatório, mas avaliativo, e não é o mesmo evento descrito nas parábolas do sermão profético. Portanto, ao interpretar as parábolas escatológicas de Mateus 24–25, é imprescindível distinguir a Igreja de Israel — como o próprio apóstolo Paulo nos orienta em suas epístolas (1 Coríntios 10:32; Efésios 3:1-6).

A Igreja — distinta de Israel escatológico — terá sido arrebatada antes dos eventos finais da tribulação, e comparecerá diante do Tribunal de Cristo (2 Coríntios 5:10) para receber conforme o bem ou o mal que tiver feito no corpo. Tal juízo, celestial e pessoal, difere radicalmente do juízo terreno e nacional prefigurado nas palavras proféticas de Jesus a respeito de Jerusalém.

Portanto, o ensino de Jesus em Lucas 17 — em harmonia com as advertências de Mateus 24 e Marcos 13 — não se refere à Igreja, mas aos judeus que viverão os dias de aflição preditos por Daniel e por Zacarias. Somente os que forem encontrados vigiando e obedecendo à orientação profética escaparão dos horrores da tribulação e estarão de pé diante do Filho do Homem (Lucas 21:36).

Após demonstrarmos que a vigilância requerida no sermão profético não se refere à Igreja de Cristo, cumpre esclarecer que a vigilância cristã consiste em uma disposição contínua de viver de forma sóbria, ou seja, com plena confiança na promessa do evangelho. Tal sobriedade não se limita à expectativa de um evento escatológico, mas expressa a perseverança na esperança revelada em Cristo, distinta da embriaguez produzida pelo “vinho da contenda” — expressão que representa as distrações e desvios provocados por elementos do judaísmo, como genealogias, fábulas e discursos infrutíferos que promovem dissensões, em vez de edificação (cf. 1 Timóteo 1:4; Tito 3:9).

A vigilância cristã, portanto, é marcada pela permanência na fé, pela constância no amor e pela esperança firme no evangelho da graça. Essa é a atitude esperada dos filhos da luz — os que pertencem ao dia — e não dos que estão em trevas (1 Tessalonicenses 5:5-8).

Se ainda houver dúvidas quanto à inaplicabilidade da parábola dos talentos à Igreja, basta que se compreenda com clareza o que é a graça de Deus em Cristo e sua suficiência para a salvação. A obediência exigida ao cristão não é a de multiplicar talentos, mas a de crer no Evangelho. Essa é a obra de Deus: que creiais naquele que Ele enviou (João 6:29). A Igreja é chamada à fé e à comunhão com o Filho, não ao temor escatológico que recai sobre os que rejeitam a revelação profética dirigida a Israel no tempo do fim.

A Graça de Deus Manifestada: Cristo Revelado a Todos os Homens

“Porque a graça de Deus se há manifestado, trazendo salvação a todos os homens.” (Tito 2:11).

A graça de Deus é frequentemente definida como “favor imerecido”, um gesto divino de bondade para com pecadores. Embora essa definição seja comum, ela revela mais sobre a condição humana do que sobre a natureza da graça. Para o apóstolo Paulo, o foco da graça não está em quem a recebe, mas em quem Deus deu: Cristo.

A graça, segundo Paulo, se manifestou. Não é apenas um conceito, não é uma força impessoal, não é um princípio moral — é uma presença real, é Cristo vindo ao mundo como dom de Deus. A graça não é um princípio — é uma Pessoa. A graça não é explicada por um adjetivo (“imerecida”), mas por um nome: Jesus.

A manifestação da graça: o Evangelho encarnado

A epístola a Tito declara que a graça de Deus “se há manifestado”. Esse verbo (“manifestar”) carrega o peso de um evento histórico, concreto e visível. Assim como em outras passagens paulinas, essa manifestação diz respeito à encarnação de Cristo, à Sua vinda como revelação do propósito eterno de Deus.

“Mas a seu tempo manifestou a sua palavra pela pregação que me foi confiada, segundo o mandamento de Deus, nosso Salvador.” (Tito 1:3).

Cristo é, portanto, a graça que se fez carne. Ele é a Palavra encarnada, o dom de Deus aos homens. A graça não é uma promessa condicional; é a presença do Salvador entre os perdidos, estendendo salvação gratuitamente a todos.

A abrangência da graça: todos os homens

A graça de Deus não se manifesta a um grupo seleto, nem está restrita aos que já mudaram de vida. Pelo contrário, ela traz salvação a todos os homens — judeus, gentios, instruídos ou ignorantes, religiosos ou rebeldes. O apóstolo Paulo afirma isso de modo universal: ninguém está excluído da manifestação graciosa de Deus em Cristo.

“Fui achado pelos que não me buscavam, fui manifestado aos que por mim não perguntavam.” (Romanos 10:20).

“Que agora foi manifesto aos seus santos… o mistério que é Cristo em vós.” (Colossenses 1:26-27).

Essa graça é a oferta do próprio Deus, e não depende do comportamento humano para ser verdadeira ou eficaz. Ela é o princípio, e não o resultado. A transformação pode vir depois, mas a graça é o início de tudo, oferecida quando ainda estávamos mortos em delitos e pecados (Efésios 2:5).

Graça revelada, não mérito exigido

A exposição do apóstolo a Tito começa e termina com essa tônica: a graça foi revelada — não conquistada. Ela foi manifestada — não construída por bom comportamento ou boas ações. O plano de Deus foi exposto ao mundo por meio da encarnação, morte e ressurreição de Jesus, e essa revelação é suficiente para oferecer salvação a todos.

“Mas quando apareceu a benignidade e amor de Deus, nosso Salvador, para com os homens…” (Tito 3:4).

A graça é Deus vindo ao nosso encontro sem exigir que sejamos educados, mansos, reformados ou polidos. O que ela requer é fé na verdade manifesta — Cristo crucificado, ressurreto e exaltado como Salvador.

Cristo é a graça que nos foi dada

Tentar avaliar se alguém “desfruta” da graça com base em comportamento externo é inverter a lógica do evangelho. A graça não é um prêmio pela boa conduta — é o dom de Deus aos indignos – a humanidade em pecado – revelado na pessoa de Jesus. Quando Paulo escreve a Tito, ele não está traçando um código de etiqueta cristã, mas declarando que Deus, em Cristo, revelou ao mundo Sua salvação — e isso é a graça.

A verdadeira pergunta não é se a pessoa é bem-comportada o suficiente para merecer a graça, mas se ela viu a manifestação de Deus em Cristo e creu. Porque é pela fé que se entra nessa graça — e é por essa mesma graça que se vive, se espera e se confia (Romanos 5:1-2).

Nesses termos, Cristo é a graça, a verdade, a fé, a justiça, a benignidade e o amor de Deus, como vários textos bíblicos destacam (Judas 1:3; 1 João 4:9; Hebreus 9:26: Tito 1:3; 2:11; 2 Timóteo 1:10; Gálatas 3:2; Romanos 16:26).

Crer em Cristo: a certeza da salvação segundo as Escrituras

“Se com a tua boca confessares ao Senhor Jesus, e em teu coração creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo.” (Romanos 10:9).

A salvação não é um mistério escondido, tampouco um prêmio conquistado por esforço ou por experiências místicas. Ela é clara e objetiva: decorre da fé no testemunho que Deus deu acerca de Seu Filho. O apóstolo Paulo foi direto ao escrever aos romanos: ser salvo é crer que Jesus é o Senhor e que Deus O ressuscitou dentre os mortos.

Mas quem é este Jesus? É o homem de Nazaré, descendente de Davi, nascido de Maria, cujas origens estavam anunciadas desde os profetas. Crer em Jesus como o Cristo é crer que as Escrituras se cumpriram quando Deus enviou o Seu Filho ao mundo, conforme prometido a Abraão, a Davi e aos profetas (Mateus 1:1; 2 Samuel 7:14).

“Quem crê em mim, como diz a Escritura, rios de água viva correrão do seu ventre.” (João 7:38).

Confessar que Jesus é o Cristo é admitir que Ele é o Filho de Deus segundo as Escrituras, e que a salvação está somente n’Ele. Isso é crer no evangelho — nas boas novas de que Deus cumpriu Sua promessa e nos deu vida eterna por meio de Cristo.

A fé salvadora é crer na revelação de Deus, não em emoções humanas

Muitos, ao longo da caminhada cristã, se perguntam: “Sou realmente salvo?” — e, não raro, baseiam sua resposta em emoções: um arrepio, um choro, uma sensação intensa de alegria. Quando esses sentimentos se dissipam, a dúvida aparece.

No entanto, a salvação não depende de uma experiência emocional. O que salva é crer no testemunho de Deus, conforme Ele mesmo revelou por meio dos profetas e apóstolos. A fé verdadeira não se ancora no que sentimos, mas no que está escrito.

“Estas coisas vos escrevi a vós, os que credes no nome do Filho de Deus, para que saibais que tendes a vida eterna…” (1 João 5:13).

Pedro, que ouviu a voz de Deus no monte da transfiguração, declara que a palavra dos profetas é mais firme do que qualquer experiência extraordinária (2 Pedro 1:19). Portanto, o que firma nossa salvação não é a intensidade de um sentimento, mas a firmeza da Escritura.

O testemunho de Deus é o Espírito que comunica conosco

Alguns citam Romanos 8:16 — “o mesmo Espírito testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus” — como se fosse necessário ouvir uma voz ou sentir algo interior para confirmar a salvação. No entanto, esse “testemunho do Espírito” não é uma experiência subjetiva, mas a palavra do evangelho que declara aos que creem:

“Vocês são filhos de Deus pela fé em Cristo.” (Gálatas 3:26-27).

O Espírito de Deus é o mesmo que inspirou os profetas e apóstolos. Seu testemunho não vem por sensações, mas por palavras fiéis e verdadeiras. O evangelho é chamado de “espírito que vivifica” (2 Coríntios 3:6), e é esse evangelho que nos comunica a certeza de que somos salvos.

“O testemunho é este: que Deus nos deu a vida eterna; e esta vida está em seu Filho.” (1 João 5:11).

A obra de Deus é crer naquele que Ele enviou

Jesus foi claro: a obra que Deus requer dos homens é crer n’Aquele que Ele enviou (João 6:29). Não se trata de uma performance religiosa, de atos externos ou de êxtases interiores. Trata-se de crer que Jesus de Nazaré é o Cristo prometido, e que em Seu nome há vida eterna.

Quem crê em Cristo, segundo as Escrituras, está com Ele, é nova criatura, e já passou da morte para a vida (2 Coríntios 5:17; João 5:24). Não há condenação para quem está em Cristo, pois a fé no Filho é a única condição exigida por Deus para a salvação.

A certeza da salvação está na fidelidade de Deus

A dúvida sobre a salvação, muitas vezes, nasce da tentativa de buscar em nós mesmos os sinais da obra de Deus. Mas a fé cristã não olha para si — olha para Cristo. A certeza da salvação não repousa na intensidade de nossa fé, mas na veracidade do testemunho de Deus.

“Se recebemos o testemunho dos homens, o testemunho de Deus é maior…” (1 João 5:9).

Deus é fiel. Ele prometeu que todos os que creem no nome do Seu Filho têm a vida eterna. Crer nessa promessa é descansar nela. E confessar essa verdade é viver em paz, mesmo em meio a sentimentos confusos ou ausentes. A salvação é um fato espiritual, selado pela palavra que procede da boca de Deus.

“Estas coisas vos escrevi… para que saibais que tendes a vida eterna.” (1 João 5:13).

Crê no Senhor Jesus Cristo e serás salvo

Nada precisa ser acrescentado a verdade do evangelho: crê no Senhor Jesus e serás salvo (Atos 16:31). A fé em Cristo, o Filho de Deus, é o que salva. Quem crê nessa mensagem tem o testemunho de Deus, é nova criatura, está em Cristo e é livre da condenação. E isso é suficiente.

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